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Verão

Especial

Instituto de Saúde Mental dos EUA aponta aumento de suicídio em jovens após "13 Reasons Why"

Conforme a pesquisa, que estabelece pouco nexo causal entre a série e mortes, meninos foram os mais afetados

Série estreou em 2017 | Foto: Netflix / Divulgação / CP

Um novo estudo conjunto de várias universidades, hospitais e do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH) dos Estados Unidos revelou que o suicídio entre adolescentes aumentou em 28,9% no mês seguinte ao lançamento da série "13 Reasons Why", da Netflix, naquele país. O relatório, publicado como um artigo no Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, descobriu que o número de casos entre norte-americanos de 10 a 17 anos em abril de 2017 foi maior do que em qualquer outro mês durante o período de cinco anos examinado. No geral, houve 195 suicídios a mais que o esperado nos nove meses seguintes à estreia da série, com base em tendências históricas e sazonais.

Quando os pesquisadores analisaram os dados por sexo, descobriram que o aumento na taxa foi impulsionado principalmente por aumentos significativos no suicídio em meninos. Enquanto as taxas de suicídio entre garotas aumentaram após o lançamento da série, o acréscimo não foi estatisticamente significativo. Os resultados destacam a necessidade de usar as melhores práticas ao retratar o tema no entretenimento popular e na mídia. "Devem aumentar a conscientização de que os jovens são particularmente vulneráveis à mídia", disse uma das autoras do estudo, a cientista clínica do Programa de Pesquisa Intramural do NIMH Lisa Horowitz.

Para entender melhor o impacto de “13 Reason Why” nas taxas, os pesquisadores analisaram dados anuais e mensais sobre suicídio provenientes dos dados on-line de ampla abrangência da Internet para pesquisas epidemiológicas. Eles incluíram informações sobre os óbitos de indivíduos entre 10 e 64 anos, ocorridos entre 1º de janeiro de 2013 e 31 de dezembro de 2017, que englobou o período anterior e posterior ao lançamento da série.

O estudo descobriu que os índices de suicídio em pessoas entre 10 e 17 anos eram significativamente maiores nos meses de abril, junho e dezembro de 2017 do que o esperado com base em dados anteriores. Este aumento traduziu-se em mais 195 mortes entre 1º de abril e 31 de dezembro daquele ano. A taxa de suicídio observada em março de 2017– o mês anterior ao lançamento do programa – também foi superior à prevista. Os pesquisadores observam que a série foi bastante promovida durante este mês de março, expondo o público à premissa do espetáculo e ao conteúdo por meio de trailers. Nenhuma tendência significativa foi encontrada na população de 18 anos a 64 anos.

Correlação ou causalidade

Embora convincente, a pesquisa teve várias limitações, de acordo com os próprios desenvolvedores. Por exemplo, o estudo usou um design quase-experimental, o que significa que os pesquisadores não podem estabelecer um nexo causal entre o lançamento de "13 Reasons Why" e as mudanças observadas nas taxas de suicídio. Ainda que não haja causa direta citada no documento, o aumento sem precedentes deixou motivo de preocupação. Os pesquisadores não podem, portanto, descartar a possibilidade de eventos ou fatores não medidos terem influenciado as taxas durante o período.

Como comparação, os pesquisadores também analisaram os homicídios durante a mesma época, para avaliar se outros eventos sociais ou ambientais do mundo, após o lançamento do programa, poderiam ter sido influenciados. Eles não encontraram nenhuma mudança significativa nesses valores depois da estreia da trama. A falta de mudança no período de interesse dá alguma força à ideia de que o aumento foi instigado pela trama e não por algum outro fator.

Netflix responde

O estudo chega após pesquisas da Universidade da Pensilvânia mostrarem que adultos jovens, com idades entre 18 e 29 anos, que assistiram à segunda temporada a série, tinham menos probabilidade de desenvolver ideias sobre suicídio ou automutilação do que aqueles que não o fizeram. “Em apoio às previsões, os espectadores que pararam de assistir à segunda temporada exibiram maior risco de suicídio e menos otimismo quanto ao futuro do que aqueles que continuaram até o fim. No entanto, inesperadamente, os estudantes que assistiram a toda a segunda temporada relataram quedas na ideação suicida e autoagressão em relação àqueles que não assistiram ao programa”, se lê no resumo do artigo, publicado na revista Social Science & Medicine. Além disso, aqueles que assistiram à segunda temporada inteira também foram mais propensos a manifestar interesse em ajudar uma pessoa possivelmente suicida, especialmente em comparação com aqueles que pararam de assistir”. 

Utilizando esta pesquisa como base, a Netflix respondeu o artigo do Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. "Acabamos de ver esse estudo e estamos investigando a pesquisa, que entra em conflito com o estudo da semana passada da Universidade da Pensilvânia", disse a gigante do streaming em nota. "Este é um tópico criticamente importante e temos trabalhado duro para garantir que lidamos com essa questão sensível de forma responsável".

CVV

Ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV), que auxilia na prevenção do suicídio, passaram a ser gratuitas em todo o país. Um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Saúde, assinado em 2017, permitiu o acesso gratuito ao serviço, prestado pelo telefone 188. Por meio do número, pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou que correm risco de cometer suicídio conversam com voluntários da instituição e são aconselhados. Antes, o serviço era cobrado e prestado por meio do 141. O centro existe há 55 anos e tem mais de 2 mil voluntários atuando na prevenção ao suicídio. A assistência também é prestada pessoalmente, por e-mail ou chat.

Correio do Povo