Spirit, um psicodélico grupo de Los Angeles que recebeu elogios dos críticos, mas jamais conseguiu a fama internacional do Led Zeppelin, afirma que o emblemático solo de guitarra melancólico que começa a música é retirado do instrumental "Taurus", de 1968, três anos antes de "Stairway to Heaven".
O guitarrista de Spirit, Randy Wolfe, cujo nome artístico é Randy Califórnia, nunca havia apresentado queixas antes de sua morte, em 1997. No entanto, Michael Skidmore, que gerencia seu patrimônio, o fez. "Se escutarem as canções, poderão fazer seu próprio julgamento. É um verdadeiro... Diria que é um calote", declarou Randy para uma revista pouco antes de morrer, segundo as afirmações apresentadas no processo. "E os caras ganharam milhões de dólares com isso e jamais disseram 'obrigado' ou 'podemos pagá-los?'. É um ponto um pouco doloroso para mim", acrescentou.
Após dois anos de procedimentos judiciais, um juiz federal decidiu que a canção não havia sido plagiada, mas considerou que havia material suficiente para um processo. Gary Klausner destacou, em maio, que as duas partes se contradizem em um ponto-chave: o acesso que Led Zeppelin obteve a "Taurus" antes de gravar "Stairway to Heaven" em Londres entre dezembro de 1970 e janeiro de 1971.
Em sua primeira atuação nos Estados Unidos, em Denver no dia 26 de dezembro de 1968, Led Zeppelin abriu o show do Spirit. Robert Plant, Jimmy Page e o pianista John Paul Jones - membros do Led Zeppelin que estão vivos - apresentaram diante do tribunal uma declaração em que afirmam nunca ter tido uma interação significativa com o Spirit ou escutado a música do grupo.
A canção de rock mais formidável
Plant e Page, que já deram depoimentos filmados, assistirão a audiência de terça-feira. Os membros do Led Zeppelin afirmam que a introdução de "Stairway to Heaven" (uma sequência em lá menor) foi utilizada na música há séculos e que a denúncia desconsidera o resto da canção, que dura cerca de oito minutos.
O juiz retrucou afirmando que as duas canções apresentam outras similaridades, como a linha de baixo. Michael Skidmore não especificou o valor de seu pedido de indenização. Especulações na imprensa mencionam desde um valor simbólico convertido em crédito ao reconhecer a contribuição musical na composição da balada mítica, a 40 milhões de dólares.
O processo, realizado na Pensilvânia, afirma também que Led Zeppelin "tem uma longa história em matéria de utilizar composições de autores de blues e outros gêneros sem creditá-los". Em apoio, o processo cita outras 16 canções da banda que foram objeto de litígio, muitas dando lugar a acordos mútuos compreendendo um crédito na composição e uma compensação financeira. Os sucessos "Whole Lotta Love" e "Babe I'm Gonna Leave You" complementam essa lista.
"Randy Califórnia merece um crédito de autoria como compositor de 'Stairway to Heaven' e o reconhecimento como autor da mais formidável canção de rock", insistiram os advogados de acusação. O juiz rejeitou o argumento de Led Zeppelin segundo o qual os fatos haviam prescrito, explicando que uma nova versão remasterizada da música foi lançada em 2014. Contudo, assinalou que Michael Skidmore somente teria direito a metade de todos os danos e prejuízos que poderiam resultar do processo, porque Randy Califórnia havia assinado um contrato doando 50% dos direitos de autoria a seu editor musical.
Esse processo é parte de uma série de litígios muito midiatizados por plágio na indústria musical. A família de Marvin Gaye recebeu 2 milhões de dólares no ano passado após a decisão de um jurado que considerou a canção "Blurred Lines", de Robin Thicke e Pharrell Williams um plágio da célebre música "Got to give it up".
Ouça as duas músicas:
AFP