“Moonlight: Sob a luz do luz”, indicado a oito categorias, incluindo melhor filme e melhor roteiro adaptado, deu a Barry Jenkins a possibilidade de ser eleito o melhor diretor. Nos 89 de existência da mais aclamada láurea da Sétima Arte, ele é apenas o quarto negro a ganhar uma indicação na modalidade. Foi precedido por John Sigleton (“Os Donos da Rua”, 1991”), Lee Daniels (“Preciosa”, 2009) e Steve Mcqueen (“12 anos de escravidão”, 2013”). Nenhum deles saiu vencedor na disputa, mas o trabalho de Mcqueen foi eleito o melhor filme do ano e rendeu também a estatueta de atriz coadjuvante a Lupita Nyong'o.
Este, que é apenas o segundo longa da carreira de Jenkins, conta a história de Chiron, um menino negro e homessexual que leva uma vida complicada nos subúrbios da Flórida. Na primeira parte da narrativa, dividida em três atos (infância, adolescência e vida adulta), é mostrada a relação do garoto com mãe alcoólatra e perturbada. Também é apresentada a amizade com Juan, um vendedor de drogas, e sua namorada, Teresa. Por seus desempenhos, Mahershala Ali, que faz Juan, e Naomie Harris, a mãe Paula, concorrem nas categorias de atores coadjuvantes.
Nesta edição, Viola Davis, um dos maiores nomes da atualidade, se tornou a mulher negra com mais indicações ao Oscar. Ela foi nomeada pela terceira vez - não ganhou em nenhuma - por sua performance em “Fences”. Baseado no livro homônimo vencedor do Pullitzer de Drama em 1987, o longa conta a história de um ex-jogador de beisebol, Troy Maxson, que se torna um catador de lixo. A mudança afeta a relação com a família, inclusive a esposa, Rose, vivida por Viola, que concorre como melhor atriz coadjuvante. Já o protagonista Denzel Washington luta pelo prêmio de melhor ator principal. O título também disputa a estatueta de melhor filme e roteiro adaptado.
Ruth Negga, a protagonista de “Loving”, compete numa das categorias mais concorridas deste ano, a de melhor atriz principal. Ele é a estrela do título, o qual acompanha Mildred, uma mulher que se envolve com um homem branco no sul dos EUA nos anos 1960, quando relacionamentos interraciais eram considerados crime. Já no drama “Estrelas além do tempo”, o espectador conhece uma divisão da NASA formada exclusivamente por mulheres afro-americanas, que, no auge da Guerra Fria, provou ser o elemento crucial que faltava na equação para a vitória dos Estados Unidos na chamada corrida espacial, liderando uma das maiores operações. Octavia Spencer, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2009 pela tragicomédia “Histórias Cruzadas”, intepreta uma das integrantes do grupo e concorre na mesma categoria que a laureou há oito anos.
Presença também atrás das câmeras:
Outros recordes de indicações também foram batidos nas categorias de roteiro adaptado e documentário. Na primeira, é inédita a indicação de três negros: August Wilson por “Fences” e Barry Jenkins e Tarell McCraney por “Moonlight: Sob a Luz do Luar” - o ápice anterior era de 1972, quando Suzanne De Plasse e Lonne Elder III concorreram por “O Ocaso de uma Estrela" e "Sounder – Lágrimas de Esperança", respectivamente. Na segunda modalidade, dos cinco concorrentes, quatro são afro-americanos: Ava DuVernay (“A 13ª Emenda”), Raoul Peck ("Eu Não Sou Seu Negro"), Ezra Edelman ("O.J.: Made in America") e Roger Ross Williams ("Life, Animated").
Ainda por trás das câmeras, Kimberly Steward se tornou a segunda mulher negra da história indicada pela produção de uma obra, com "Manchester à Beira Mar", concorrente a melhor filme. A primeira foi Oprah Winfrey, pelo drama histórico "Selma". Os resultados foram celebrados pela Associação Afro-Americana de Críticos de Cinema, que afirmou estar "entusiasmada com os recordes superados com as indicações neste ano". "Esperamos que o progresso da Academia continue para refletir a rica diversidade da América", afirmou a instituição.
Apesar do simbolismo e importância desses números para a equidade e de campanhas como o #OscarSoWhite, que aconteceu no ano passado, vale ressaltar que negros, que representam 12.6% da população dos Estados Unidos, ainda tem baixos padrões de representatividade em Hollywood. Por exemplo, nesta edição do importante prêmio, todos as personalidades nomeadas desta comunidade são de obras que oferecem um recorte etnográfico em diferentes épocas e situações. Ainda faltam protagonistas negros em produções com elencos mais miscigenados e temáticas menos específicas.
Correio do Povo