O primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, escreveu uma carta oficial ao diretor executivo da Netflix solicitando que a empresa corrija "erros terríveis" sobre o Holocausto em sua série documental "The Devil Next Door". A produção de cinco partes sobre John Demjanjuk – um trabalhador aposentado dos EUA condenado por um tribunal alemão em 2011 por ter sido um guarda nazista durante a guerra – mostra um mapa de campos de extermínio que diziam que estavam localizados na Polônia, usando as atuais fronteiras. O governo insiste repetidamente em comentários sobre os campos de extermínio para rotulá-los como sendo operados pelos nazistas na "Polônia ocupada pelos alemães", porque a nação do leste europeu não tinha governo próprio em seu território após a invasão de Adolf Hitler em 1939.
"Escrevi uma carta para a cabeça de Netflix Sr. Reed Hastings sobre inconsistências históricas nas produções de cinema nesta plataforma. Podem ser pequenos erros para os seus criadores, mas eles são muito nocivos para a Polónia, e é nossa tarefa reagir com força. Espero que os meus argumentos conheçam a compreensão das pessoas que gerem a Netflix. Abaixo a versão em inglês e polonês da minha carta, e um mapa da Europa desse período. Eu te incentivar a seguir em frente", escreveu Morawiecki em um post no Facebook, onde publicou a carta na íntegra, em inglês e em polonês.
Polska była ofiarą niewyobrażalnych zbrodni niemieckich podczas II WŚ. Być może dla @NetflixPL pomyłki w filmach dok. są mało znaczące, ale dla Polaków mają znaczenie fundamentalne. Wystosowałem do szefostwa portalu list - poniżej wersja .
— Mateusz Morawiecki (@MorawieckiM) November 11, 2019
Pełna wersja: https://t.co/qSbtFgyCeg pic.twitter.com/CebXODBD3m
No documento, ele afirma que os campos foram construídos pelos nazistas em solo polonês, mas que contextualização geográfica usada pelo serviço de streaming implicava que a Polônia existia na época como uma nação independente dentro de suas fronteiras do pós-guerra e, portanto, poderia compartilhar a responsabilidade pelas atrocidades. "Como meu país nem sequer existia na época como um estado independente, e milhões de poloneses foram assassinados nesses locais, esse elemento de" The Devil Next Door" não é nada menos que reescrever a história", disse ele.
"Não apenas o mapa está incorreto, como também engana os espectadores a acreditarem que a Polônia era responsável por estabelecer e manter esses campos", escreveu o premiê dizendo acreditar que era um erro "não intencional". "Hoje, ainda devemos essa verdade às vítimas da Segunda Guerra Mundial". A temática é muito sensível e polêmica no país, cujo Partido Nacionalista da Lei e Justiça (PiS), no ano passado, aprovou uma lei que permite que proíbe o termo "campos de extermínio poloneses" e permitia que os tribunais prendessem qualquer pessoa que tenha feito essa sugestão. Sob pressão dos EUA, a legislação foi mudada, excluindo a possibilidade de detenção. Um porta-voz da Netflix disse que a empresa está "ciente das preocupações" e "está investigando urgentemente o assunto".
Memorial e Museu de Auschwitz cobra precisão
O Memorial e Museu de Auschwitz-Birkenau, antigo campo de concentração e extermínio nazista alemão construído na Polônia ocupada – afirmou que "Devil next door" conta uma história importante, mas cobrou que se podia "esperar mais precisão nessa produção". "Não apenas mostra um mapa da Europa Central com fronteiras pós-guerra (não durante o período da guerra), mas também os locais dos campos de Chelmno e Majdanek estão simplesmente errados", afirmou a instituição em um tweet.
.@netflix "Devil next door" tells an important story. However not only it shows a map of Central Europe with post-war (not war-time occupation) borders but also the locations of Chelmno and Majdanek camps are simply wrong. One could expect more accuracy in such a production. pic.twitter.com/iiJ9Mkmwud
— Auschwitz Memorial (@AuschwitzMuseum) November 10, 2019
O Museu também questiou o motivo de, no mapa, apenas um campo de concentração alemão estar marcado, enquando há oito no território polonês. "É claro que outro problema é o sinal para Auschwitz, pois era um campo de concentração que em março de 1942 se tornou também um campo de extermínio. Sabemos que é complicado, mas deveria ser complicado demais para um documentário histórico?", questiona.
Correio do Povo