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Verão

Especial

"Precisava fazer 'Dor e Glória'", diz Pedro Almodóvar em Cannes

Novo longa do diretor espanhol foi exibido nesta sexta no festival

Pedro Almodóvar ao lado de Penélope Cruz em Cannes | Foto: Alberto Pizzoli / AFP /CP

Tão admirado quanto enigmático, Pedro Almodóvar deu o passo de se expor em "Dor e Glória". Uma forma de sacudir o medo de "perder a paixão de contar histórias", explicou nesta sexta-feira o cineasta espanhol em Cannes. Horas antes de que se apagassem as luzes e começasse a projeção do filme, o diretor espanhol enfrentou o desafio com segurança: "Ficarei atento a cada respiração destas duas mil almas", inclusive as nove do júri, que podem, por fim, lhe conceder a primeira Palma de Ouro, depois de cinco tentativas frustradas. 

De blazer amarelo sobre uma camisa de listras coloridas, Almodóvar, de 69 anos, conversava com um grupo de jornalistas com a experiência de quem há mais de trinta anos frequenta a maior mostra de cinema do mundo, sem esconder certa desconfiança, após ter presidido o júri em 2017. Embora muitos apostem que este será seu ano, "isso não significa que eu vá vencer, conheço muito bem as regras do jogo" em Cannes, afirmou. 

Intimidade

Sobre "Dor e Glória", que é um dos seus trabalhos mais íntimos, ele revelou que a produção foi um período de superação na sua vida. "Precisava fazer isso. Tem sido uma espécie de bálsamo, estava preocupado pelas mesmas razões do protagonista. Não estava seguro de poder fazer fisicamente o próximo filme e tenho medo de não sentir a mesma paixão que senti até agora por contar histórias. O fato de ter feito o filme significa que superei esta incerteza momentaneamente".

"A princípio, senti a vertigem de me expor demais. Sou cheio de pudores, não falo da minha vida íntima nem com meus amigos, mas assim que superei, virei um tema a mais. Mas em algumas cenas com a mãe eu lembro de tê-las escrito chorando. Não se deve ver o filme de modo muito literal: sim, vivi um amor truncado em um momento em que o amor estava vivo, mas eu não tive essa relação de estranhamento com a minha mãe. Isso representa os olhares de estranhamento que eu sentia quando era criança na aldeia, na família e no colégio. Tampouco me apaixonei aos 9 anos por um pedreiro, mas poderia ter acontecido", completou. 

A escolha por Antonio Banderas estrelar o longa veio pela sintonia que a dupla construiu ao longo dos anos. "Era o mais legítimo, muitas coisas de que falo ele sabe em primeira mão. Entendeu que o que ia pedir era o contrário do que havia pedido até agora. Não era o Banderas apaixonado com esse brio e essa bravura características. Sua tessitura devia ser gestual, minúscula", disse. 

Cinema espanhol, série e Mery Streep

Para Almodóvar, o cinema espanhol evoluiu muito desde quando lançou seu primeiro filme "Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão", em 1980. "Fico feliz de que muitos dos temas que tratei nos anos 1980 tenham virado cotidianos, como as múltiplas variantes da sexualidade. E me sinto muito sortudo de ter sido jovem nos 1980. O mais importante foi como as condutas mudaram, um país inteiro que perde o medo. Mas o mundo mudou. Uma pergunta que me fazem com frequência é se poderia fazer agora "Maus Hábitos" (Entre tinieblas, 1988). Isso inclui a sensação de que vivemos em um país com menos liberdade da que desfrutávamos nos 1980". 

Almodóvar revelou que não descarta a possibilidade de dirigir uma série, no futuro. Tanto que já comprou os direitos de uma obra para trabalhar em cima. Entretanto, não pretende ceder as tentações de Hollywood e realizar um filme em inglês. "Cada vez estou mais perto disso, mas me dá pavor. "Julieta" tinha que ser em inglês, já havia falado com Meryl Streep, mas no último instante me deu uma insegurança e decidi voltar à Espanha". 

Apesar de "Dor e Glória" ainda estar fresco, o diretor pode chamar a cantora Rosalía, que está neste último longa, para atuar em uma nova história. ""Vendo como funcionou, eu deveria escrever um filme folclórico contemporâneo e ela o interpretaria. Ela tem uma enorme naturalidade e muita graça. Estou esperando que me venha a história na cabeça ou fazer um remake", concluiu. 

AFP