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Verão

Especial

Presos na nuvem

O filme ‘A Nuvem Rosa’, de Iuli Gerbase, chega aos cinemas na próxima quinta-feira

A atriz gaúcha Renata de Lélis interpreta Giovana, uma mulher que tem um filho durante confinamento causado por uma nuvem tóxica | Foto: Bruno Polidoro / Divulgação / CP

Estreia nos cinemas, na próxima quinta-feira, o filme “A Nuvem Rosa”, com roteiro e direção da gaúcha Iuli Gerbase. Essa história, que mescla ficção científica, drama e suspense psicológico, começa com uma nuvem rosa que carrega uma misteriosa substância tóxica que mata humanos que a respiram em dez segundos. A partir do surgimento dessa nuvem, os sobreviventes precisam viver em confinamento.
Os protagonistas são Giovana e Yago. Eles foram surpreendidos pelo acontecimento no apartamento dela após passarem uma noite juntos depois de uma festa. Enquanto esperam a passagem do fenômeno, eles terão de conviver. 
A diretora conta que teve a ideia do filme muito antes da pandemia. A história começou a ser construída em 2016 e sua última alteração no roteiro foi em 2019. Por isso, apesar de abordar o confinamento, as semelhanças com o que se viveu a partir de 2020 são “mera coincidência”. Isso é informado ao espectador nos créditos iniciais para que fique claro que a história foi escrita antes do surgimento da Covid-19. Comentários de que a trama foi premonitória surgiram. A relação entre o que se vê na tela e o que a pandemia impôs pode ser feita, respeitando as diferenças das situações. O filme eleva o confinamento ao seu estágio mais cruel, porque, diferentemente do que ocorreu na realidade, na trama não se pode sair para nada, nem para o que é considerado essencial, como ir ao médico. Mantimentos são entregues por um tubo instalado na casa das pessoas, em uma das cenas sci-fi da produção. 
Iuli destaca que sua preocupação maior ao escrever o roteiro foi com a convivência entre o casal. Seu objetivo era explorar os altos e baixos desse relacionamento. Pensando nos motivos que poderiam gerar o isolamento, ela optou por esse fenômeno surreal. Por isso, uma investigação sobre a causa da nuvem não é o foco da narrativa. 
O ator Eduardo Mendonça encarna Yago, que não abandona alguns de seus sonhos dentro da nova realidade, como o de ser pai. Prefere não ver muitas notícias e se adaptar ao momento. A mulher, Giovana, interpretada com intensidade por Renata de Lélis, se sente aprisionada e se revolta com a situação. Em um primeiro momento, ela não quer ter filhos, mas depois fica grávida e tem um bebê.
A convivência vai gerando desgastes. A socialização com outras pessoas só é possível on-line. Por isso, notícias de amigos ou familiares ou a ausência delas se tornam especialmente dramáticas. E o que acontece no exterior do apartamento também os atinge através de algum vizinho ou do que aparece no noticiário.
Filmado em Porto Alegre, o longa contou com efeitos especiais realizados pela empresa DOT, em São Paulo, para a criação da nuvem, em seus diferentes matizes de rosa. A Direção de Fotografia de Bruno Polidoro e a Direção de Arte de Bernardo Zortea criam uma atmosfera que promove um diálogo entre o interior e o exterior dos personagens. O desenho de som de Kiko Ferraz e Chrístian Vaisz e a trilha de Caio Amon enfatizam momentos de angústia e opressão.
Este é um filme que suscita a possibilidade de muitos debates, tanto existenciais, como psicológicos e identitários. Traz cenas e diálogos fortes. E o que pode ser apresentado pela imagem não recebe explicação por diálogos. Neste ponto, o filme não subestima a inteligência do espectador. Desta forma, a montagem causa algumas surpresas, especialmente no que se refere a passagens de tempo. Exercícios de ficção nos ajudam a pensar sobre a nossa realidade. “A Nuvem Rosa” é um trabalho profundo que chega em um período mais do que oportuno para essa reflexão.

CINEASTA - A gaúcha Iuli Gerbase apresenta seu primeiro longa-metragem, “A Nuvem Rosa”. A formação profissional da diretora foi em Produção Audiovisual pela PUCRS. Também é mestre em Letras - Escrita Criativa pela mesma universidade. Na sua carreira, já realizou seis curtas-metragens. Em 2019, o curta “A Pedra” ganhou uma Menção Honrosa na competição de curtas brasileiros no Festival de Cinema de Gramado.
Com os pais também cineastas, o diretor Carlos Gerbase e a produtora Luciana Tomasi, a artista respira cinema desde criança. Mas mostra que trilha seu próprio caminho, apresentando, desde seus curtas, trabalhos com profundidade filosófica e psicológica. 
“A Nuvem Rosa” passou por festivais internacionais antes de estrear no Brasil, como em Sundance (EUA). No Festival Sofia (Bulgária), recebeu prêmio de Melhor Filme. No Festival de Munique (Alemanha), Menção Honrosa.

Adriana Androvandi