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Verão

Especial

Um festival conectado com as demandas humanas

Porto Alegre em Cena teve o seu primeiro final de semana com duas peças que falam de mitos e buscas

Com o diretor Márcio Meirelles e o filho Rocco, Antônio Pitanga disse que espetáculo "Embarque Imediato" foi um presente de Aldri Anunciação para ele | Foto: Luiz Gonzaga Lopes / Especial / CP

Os primeiros quatro dias do 29º Porto Alegre em Cena mostraram como um festival cênico precisa estar conectado com as demandas humanas mais prementes. Com uma programação local que destacou temas como o Oriente Médio (Palácio do Fim), a causa indígena (Terra Adorada), a pobreza (Maria, seus filhos e suas filhas) entre outros assuntos, as atrações nacionais foram aquelas que passaram mensagens muito claras do que é humano, demasiadamente humano e preciso ser falado, emocionando a todos no Salão de Atos da PUCRS, na sexta-feira e no domingo. Na sexta, dia 2, Gregório Duvivier mostrou toda a sua versatilidade e capacidade de trazer o humor para assuntos sérios com “Sísifo”, a metáfora perfeita para desgovernos em alguns países e para este mundo hiperconectado, do tudo pode e de não poder ser contrariado. A travessia de uma rampa que rendeu 60 histórias, escritas a quatro mãos com Vinicius Calderoni, trouxe o mito grego para o festival, fazendo com que o caminho em um bar do balcão até a pista de dança pudesse ser igual a quem carrega pedras morro acima e vê tudo voltar ladeira abaixo. O eterno retorno, o "feitiço do tempo" daquele filme com Bill Murray, causam uma ideia de limbo, mas com muito bom humor e com a reflexão sobre aquele momento político, que acaba sendo uma metalinguagem dos anos que vivemos recentemente.

No domingo, dia 4, também na PUCRS, Antonio Pitanga, aos 83 anos, o filho Rocco Pitanga, Camila Pitanga por vídeo, sob direção de Márcio Meirelles, montando o texto de Aldri Anunciação (“Medida Provisória”) chamado “Embarque Imediato” mostrou o embate de gerações e pensamentos em um entre-lugar de um aeroporto. O personagem mais velho é descendente dos Agudás (africano escravizado no Brasil em retorno ao país de origem) e o mais jovem é um doutorando negro brasileiro cuja tese é sobre Bertolt Brecht. Nas conversas, há a perspectiva colonizada do jovem e de supostas vantagens da diáspora forçada dos africanos e o questionamento deste senhor mais velho. Ao final do espetáculo, Pitanga disse que o texto foi um presente pelos seus 80 anos, pois em 1964 ele foi para a Europa e depois para a África para tentar entender de qual África descendia, este continente dividido em 54 países pelos colonizadores, cuja tribos se matam e não se entendem por ação do colonizador. Dois espetáculos e duas aulas de humanidade. O festival segue até quarta-feira, dia 7, com três peças, destacando "Ítaca - Nossa Odisseia I", da diretora Christiane Jatahy, na Cinemateca Capitólio, às 17h e 20h. 

 

 

Luiz Gonzaga Lopes