Um dos filmes da safra 2021 que ganha destaque frente às próximas premiações da temporada é “A Mão de Deus” (É stata la mano di Dio), roteirizado e dirigido por Paolo Sorrentino. Premiado no Festival de Veneza, este título italiano também concorre ao Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Estrangeiro.
Este drama alternado com momentos cômicos é inspirado na própria trajetória do cineasta, sendo um filme autobiográfico. A história se passa na década de 1980, em Nápoles, e é protagonizada pelo jovem Fábio (Filippo Scotti). O rapaz estuda e vive em meio à família, que tem suas peculiaridades. Mas a partir de uma fatalidade precisa superar perdas familiares traumáticas.
O título do longa-metragem faz referência ao gol de Maradona feito em 1986, apelidado de “mão de Deus”, irregular por ter sido feito com a mão, mas que foi validado pela arbitragem. É em meio à chegada do craque argentino que se tornou um ídolo do futebol napolitano que a trajetória de Fábio se desenrola, com cenas reconstituindo o que foi a passagem do atleta pela cidade.
Não apenas a adolescência do personagem conduz a narrativa. Toques de fantasia e personagens bizarros lembram produções de Federico Fellini (1920 -1993), que Sorrentino admite ser uma referência em seu trabalho. Pode-se dizer que “A Mão de Deus” está para Sorrentino como “Amarcord” está para Fellini. Uma frase do cineasta falecido é citada no filme em um diálogo, a de que o cinema é uma distração frente à realidade, que é terrível.
Apenas para citar alguns personagens esquisitos do filme de Sorrentino, estão a matriarca que usa um casaco de pele, mesmo no verão, para mostrar “status”, mas é desbocada, deixando qualquer finesse de lado; a irmã que está sempre no banheiro e a mãe que arma brincadeiras e situações similares a “pegadinhas”. Sorrentino volta a trabalhar com o ator Toni Servillo, que faz o papel do pai de Fábio. O diretor tem uma bem sucedida parceria com o ator, que protagonizou o seu filme anterior “A Grande Beleza” (2013).
Cenas que retratam a geografia da região são exibidas sob a bela direção de Fotografia de Daria D'Antonio. As sequências do passeio à ilha Stromboli, onde há atividade vulcânica, podem ser interpretadas como a efervescência da mente do protagonista, que busca um rumo para sua vida, ou lembrar de outro filme de um mestre italiano do cinema, Roberto Rossellini, cujo título é “Stromboli”. Por ser uma área de fronteira, personagens que trabalham com contrabando em meio a barcos turísticos também agitam a narrativa. É um filme que emociona por falar da dor das descobertas e do amadurecimento.
O filme está disponível na plataforma Netflix.
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=pa7qvOqjiqc
Adriana Androvandi