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Novos empregos gerados por 5G demandam melhor ensino no Brasil

Raul Colcher vê necessidade de melhora no ensino por mais empregos na área de tecnologia no Brasil | Foto: Carlos Alberto Teixeira / Divulgação / CP

Em um futuro não muito distante irá se difundir a tecnologia 5G, acelerando a velocidade da internet e possibilitando recursos e tecnologias que hoje não estão disponíveis. Ao mesmo tempo, demandará maiores cuidados com a segurança digital. Esse cenário deverá gerar cerca de 3,5 milhões de empregos no mundo nos próximos dois anos. 

Projetando implementar essa tecnologia apenas a partir de 2022, o Brasil larga atrás nessa expansão de postos de trabalho. Um tempo a mais, na avaliação do engenheiro de comunicações e presidente da Questera Consulting, Raul Colcher, para o país tentar superar o desafio na formação desses profissionais da área de tecnologia.

Membro sênior do IEEE, organização em nível mundial dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, ele vê a necessidade de aprimoramento em disciplinas essenciais para essas novas profissões e adverte que os cuidados de segurança digital devem ser tomados desde agora, em razão da concentração de dados pessoais em aparelhos celulares. 


Correio do Povo: Há uma expectativa de criação de 3,5 milhões de empregos no mundo até 2021. Qual o potencial de criação desses postos de trabalho no Brasil? 

Raul Colcher: O potencial de criação de empregos depende do crescimento da atividade econômica. Especificamente com relação a empregos vinculados a novas atividades envolvendo tecnologias emergentes, existe um desafio quanto à formação especializada, mas também em relação à educação básica, uma vez que os estudantes brasileiros são, na média, mal formados e apresentam desempenho medíocre em disciplinas essenciais, como matemática. Algumas das profissões mais “nobres” que serão criadas pelas novas tecnologias, como, por exemplo, a de cientista ou analista de dados, exigem uma base sólida de estatística e cálculo, infelizmente pouco comum nos estudantes brasileiros atualmente. Por outro lado, muitas das profissões atuais, inclusive de nível superior e bem remuneradas, serão tornadas obsoletas em prazos mais curtos do que a maioria das pessoas se dá conta, e substituídas por processos e sistemas robotizados ou automatizados em geral. Existem previsões de organizações sérias estabelecendo cenários preocupantes de desemprego estrutural a curto prazo, mas esse debate infelizmente ainda não se disseminou no Brasil, ao contrário do que ocorre nas economias mais avançadas.

CP: O possível atraso na implementação da tecnologia 5G, conforme informado pelo ministro Marcos Pontes, afeta esse possível boom na criação de empregos?

RC: Sim. Dado o fato de que o Brasil não tem qualquer papel relevante na criação e implementação da tecnologia 5G, os possíveis empregos a serem criados, associados à implantação dessa tecnologia no país relacionam-se sobretudo à disseminação das aplicações emergentes a serem viabilizados sobre as redes e serviços novos que se tornarão disponíveis. Diferentemente de gerações anteriores, a 5G não se caracteriza unicamente pelo aumento de velocidades, mas representa também um salto de qualidade em parâmetros tais como a latência de transmissão, o que permitirá a implementação e difusão de aplicações novas com grau maior de sofisticação, em áreas como medicina, controle de processos industriais e tecnológicos críticos, veículos autônomos e internet das coisas, em geral. À medida que tais aplicações se disseminem, empregos relacionados a elas tendem a se viabilizar.

CP: Em quais áreas os jovens direcionar suas formações? O Brasil, na sua opinião, oferece uma rede de ensino adequada nesta área ou o interessado deve buscar conhecimento fora do país?

RC: O país possui instituições de ensino superior de bom nível, sobretudo nos grandes centros, embora careça de uma rede de escolas técnicas apta a suprir a demanda por técnicos qualificados de nível médio. Nosso grande desafio, no entanto, situa-se no ensino básico, cuja qualidade é ruim e limita irremediavelmente as possibilidades da maioria dos estudantes brasileiros quanto a suas oportunidades de acesso a carreiras com maior necessidade de conhecimentos em disciplinas como matemática, física e química. Nossos professores são mal formados e mal remunerados e há uma grande carência de infraestrutura em todos os níveis. O mais grave é que a educação no mundo continua a evoluir, em busca de respostas para um novo ambiente e novas profissões, e o aparato educacional brasileiro se distancia cada vez mais dos padrões de excelência estabelecidos em países mais avançados, acarretando um fosso de competitividade irrecuperável e crescente.

CP: A prevenção de riscos online já é uma realidade. Na sua opinião, hoje as pessoas já estão percebendo isso ou ainda, de maneira geral, são muito vulneráveis a ataques hackers?

RH: As pessoas já estão percebendo e também continuam muito vulneráveis. É preciso entender os riscos de segurança cibernética como resultado de uma corrida contínua, uma competição sem fim entre a progressiva sofisticação dos atacantes e das ferramentas de prevenção e dissuasão. O capítulo atual dessa competição compreende o emprego de ataques cibernéticos por atores governamentais e forças militares, cujas ferramentas de alto poderio e sofisticação tendem a difundir-se progressivamente, estabelecendo desafios de grande complexidade para os sistemas corporativos de prevenção e mitigação de riscos. No caso das aplicações voltadas às pessoas físicas, presentes cada vez mais no dia a dia de todos, existe uma grande dose de desinformação, que torna possíveis golpes de natureza e forma variadas, envolvendo compras online ilegítimas, apropriação irregular de fundos em contas bancárias, roubo de identidades e muitas outras ameaças.

CP: Esses ataques podem vir a acontecer em maior escala com a implantação de tecnologias 5G? E, nisso, quais serão os desafios da cibersegurança na próxima década?

RH: Sim, essa é uma possibilidade concreta, na medida que, com o surgimento e difusão da 5G, tendem a disseminar-se redes e sistemas complexos e de grande abrangência, envolvendo a conexão de dispositivos, processos e pessoas, em aplicações críticas, cuja danificação ou interrupção têm potencial de causar grandes prejuízos e até ameaçar a saúde e a segurança física de pessoas. Nesse contexto, será essencial desenvolver processos e tecnologias que aumentem a segurança de tais sistemas e permitam lidar com ataques de sofisticação crescente.

CP: Bem antes disso, tendo no celular a concentração de muitos dados importantes, como se proteger? 

RH: O desafio de proteger informações acessíveis via celular torna-se complexo, em virtude de que abrange a totalidade dos usuários, a maioria dos quais é desinformada a respeito das ameaças e das medidas de proteção adequadas. Infelizmente, essa grande maioria está bastante exposta a ataques e aos prejuízos decorrentes, e tal situação não parece estar a caminho de modificar-se a curto prazo. Torna-se necessário realizar campanhas educativas, aumentar a segurança intrínseca das aplicações mais críticas e populares e aumentar a dissuasão pela tipificação criminal das ofensas e pela identificação e punição efetiva dos responsáveis.

Correio do Povo