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Verão

Especial

Referência de arbitragem

No universo do futebol, poucos nomes se destacam tanto quanto o de Carlos Alberto Simon, árbitro que ostenta o título de ter apitado o maior número de Copas do Mundo

Árbitro ostenta o título de ter apitado o maior número de Copas do Mundo | Foto: Ricardo Giusti

Hoje, não apenas como ex-árbitro, mas também como jornalista e comentarista de arbitragem, Simon compartilha com o Correio do Povo memórias marcantes que moldaram sua impressionante trajetória nos gramados.

Quem é Carlos Simon?

Nasci na cidade de Braga, no interior do Rio Grande do Sul. Sou filho de um professor e de uma dona de casa e tenho quatro irmãos.

Pode contar um pouco da sua trajetória como árbitro?

Comecei a trabalhar desde muito cedo, residindo inicialmente no interior de Passo Fundo. Posteriormente, mudei-me para Porto Alegre e dei início à minha trajetória como árbitro de futebol. Em 1984, realizei o primeiro curso de árbitro na Federação Gaúcha de Futebol e, a partir desse momento, não parei mais. Arbitrei nas categorias de base, desde o campeonato juvenil até o júnior, até alcançar o nível profissional na Federação Gaúcha de Futebol.

Em 1992, optei por ingressar no Campeonato Gaúcho. No ano seguinte, em 1993, tornei-me parte do quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Em 1995, obtive a posição de aspirante da Fifa, e em 1997, alcancei o status de árbitro da Fifa. Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de participar das Olimpíadas em 2000 e fui o único brasileiro a apitar em três Copas do Mundo consecutivas: 2002, 2006 e 2010.

Quantos anos de trabalho no futebol?

Tenho 27 anos de experiência no campo, totalizando 1.198 jogos ao longo da minha carreira. Em diversos momentos, tive a oportunidade de apitar jogos beneficentes, contribuindo para causas sociais durante minha trajetória como árbitro.

Como surgiu a vontade de se tornar árbitro e de ser jornalista?

Como jornalista, formei-me na PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) em 1992. Inicialmente, exerci a profissão cobrindo alguns jogos como imprensa. Em 2012, dei um novo rumo à minha carreira ao tornar-me comentarista esportivo especializado em arbitragem. Curiosamente, minha ligação com o futebol começou com o sonho de ser jogador. No entanto, ao chegar em Porto Alegre, aos 17 anos, e realizar testes para ingressar como jogador, não obtive sucesso. Foi então que, ao apitar um jogo em uma escola técnica, um professor percebeu meu potencial para a arbitragem. Motivado por essa observação, fiz um curso na Federação Gaúcha de Futebol, marcando o início da minha trajetória como árbitro.

No jornalismo, o que marcou o senhor?

Eu sou o único jornalista a comentar 11 finais de Libertadores, um feito histórico. Desde 2012, participei como comentarista em todas as finais da Libertadores da América.

Para quem tem interesse em começar a trajetória na arbitragem ou no futebol, o que você diria?

Para atuar no universo do futebol, é necessário ser um verdadeiro apaixonado por esse esporte. A jornada inicia-se ao realizar um curso na Federação Gaúcha de Futebol, seguido de uma preparação física intensa e constante estudo.

Como você vê o papel da tecnologia na revisão de decisões arbitrais? Essa mudança é benéfica para o esporte?

Eu sou favorável a essa tecnologia que se integrou à nossa vida, como o VAR, uma ferramenta destinada a apoiar a arbitragem. No entanto, acredito que sua aplicação atual está sendo inadequada. O VAR é operado por seres humanos, e, embora seja uma ferramenta permanente, precisa ser aperfeiçoada. Acredito que, com melhorias e ajustes, o VAR pode contribuir significativamente para a melhoria do processo de tomada de decisões no futebol.

Com uma carreira extensa como árbitro, quais foram os momentos mais desafiadores e gratificantes que enfrentou em campo?

Foram 27 anos dedicados ao apito, ao longo dessa trajetória, vivenciei inúmeros momentos gratificantes, além de desafios que foram superados com dedicação e empenho. Entre as conquistas, destaco minha participação em 51 finais de competições de futebol profissional, abrangendo a Recopa, a Super Copa América e a Copa do Brasil, entre outras inúmeras finais. Esses momentos foram muito gratificantes, especialmente o meu primeiro Gre-Nal em 1995, no Estádio Olímpico. Essa experiência não apenas me proporcionou a emoção do clássico, mas também a participação em finais de diversos campeonatos, incluindo a Copa do Brasil.

Qual final o senhor considera a mais memorável e por quê?

Aquela que considero a mais memorável para mim foi a primeira final do Brasileirão em que atuei, em 1998. A disputa envolveu três jogos entre Corinthians e Cruzeiro. Eu optei por arbitrar o primeiro e o terceiro. Em 1997, tornei-me árbitro da FIFA e tive a oportunidade de apitar dois dos três jogos das finais. Esse feito contribuiu significativamente para a minha visibilidade internacional. As partidas eram transmitidas exclusivamente em um canal de televisão, tornando-se um evento assistido por muitos durante as festividades de final de ano. Apitei finais em 1999 e 2000. Em 2002, encerrei essa fase, marcando a última final desse mata-mata. A partir de 2013, uma nova era começou com as finais extraordinárias em São Paulo. Uma das memoráveis envolveu Santos e Corinthians no Morumbi, onde Robinho realizou suas pedaladas. Foi uma experiência marcante em minha carreira como árbitro.

Na Copa do Mundo de 2010, o senhor arbitrou dois jogos na África do Sul. Como foi a experiência de participar e quais foram os desafios enfrentados?

O desafio foi comigo mesmo na terceira Copa do Mundo, sendo o único brasileiro naquela edição e também o árbitro mais velho na competição, uma vez que a FIFA aceitava árbitros até os 45 anos e eu tinha 44 anos. Além de ser um árbitro com duas Copas do Mundo, era o mais velho, o que tornou a preparação extremamente exigente. Tive que abrir mão de muitas coisas, controlar a alimentação, manter o preparo físico e enfrentar testes rigorosos da FIFA. Os assistentes também estavam em ótima forma, tendo participado do Mundial de Clubes em Barcelona, no time do Messi, em 2009, e na Copa de 2010.

A concentração foi intensa, especialmente no jogo de mais alto risco daquela Copa do Mundo, que foi entre Inglaterra e Estados Unidos. Na época, houve ameaça de bomba, tornando a situação ainda mais difícil. Enfrentei uma pressão enorme, inclusive com a presença do vice-presidente dos Estados Unidos no estádio. A FIFA, ciente do desafio, designou-me para apitar esse jogo, que terminou em 1 a 1, e tudo transcorreu de maneira tranquila.

Posteriormente, apitei a partida entre Alemanha e Gana e fui escalado para apitar a final da competição. No entanto, por questões de protocolo, acabei ficando fora da grande final. Foi, sem dúvida, um desafio monumental em minha carreira.

Nas Olimpíadas de 2000, em Sydney, o senhor apitou partidas cruciais. Como essa experiência se compara às das Copas do Mundo?

As Olimpíadas são maravilhosas, com várias modalidades esportivas. Sempre fui muito conectado ao esporte, acompanhando a abertura no estádio e participando de diversas competições, como jogos de basquete e outras disputas individuais de atletismo. Tive a oportunidade de curtir intensamente esses momentos nas Olimpíadas, participando como árbitro em diversas competições.

O futebol, sendo mais uma modalidade esportiva dentro desse evento grandioso que abrange inúmeras modalidades, foi uma experiência única para mim. A oportunidade de apitar os jogos olímpicos foi tão gratificante que fui selecionado para a Copa do Mundo de 2002.

Na Copa do Mundo FIFA de 2002, você arbitrou dois jogos da fase de grupos. Qual foi a sua abordagem para manter a imparcialidade e a justiça durante partidas tão importantes?

Foi um sonho realizado apitar a Copa do Mundo de 2002, a primeira realizada entre os países do Japão e da Coreia do Sul. O Brasil disputou a primeira fase na Coreia do Sul, onde atuei em dois jogos do clássico europeu: Suécia e Inglaterra, e depois México e Itália. Mantive minha participação até o final da competição.

A FIFA tem o critério de liberar os árbitros das quartas de final caso seus países sejam eliminados. Contudo, devido ao bom desempenho, permaneci na competição, representando a América do Sul. Essa permanência se deu pelo avanço do Brasil, que conquistou o título mundial na Copa do Mundo. Após esse sucesso, tive a oportunidade de trabalhar na final Intercontinental, que envolveu o Real Madrid, campeão da Champions League, e o Olímpia, campeão da Libertadores da América. Fui indicado pela comissão da FIFA para arbitrar o jogo no Mundial de Interclubes.

Participar da Copa América 2007 na Venezuela foi uma experiência única. Quais foram os desafios específicos de arbitrar esse torneio e como você lida com a pressão em competições internacionais?

Em 2001, na Colômbia, houve uma pressão imensa devido à questão da violência, a ponto de a Argentina optar por não participar daquela Copa América. Posteriormente, em 2007, na Venezuela, a pressão persiste, especialmente quando representando o Brasil na arbitragem internacional e no cenário do futebol brasileiro. A responsabilidade era elevada, exigindo condições físicas, mentais, conhecimento e informações adequadas para conduzir a arbitragem de maneira plena.

Durante toda a minha carreira, mantive esses critérios como pilares fundamentais, sempre buscando uma preparação intensa para enfrentar os desafios da arbitragem em sua totalidade.

Vitória Fagundes