Vivo em busca de vidas, sobretudo onde há cinza, cenas repetidas, espaços formatados. Eis o desafio do contraste, não deixar que o cotidiano desgaste o desejo de profundidade. É preciso persistir, ir além das sequências, geometrias, elementos matemáticos. Vasculho frestas, atravesso a rigidez interposta em primeiro plano. Procuro algo que me faça sentir humana e não apenas parte de uma engrenagem. Sentir o pulso de uma sociedade rodeada de produtos, tempo curto, viadutos, mapas, placas, datas. Sentir que, entretanto e entre tantos, cada ser é um só, e nessa singularidade mora algo de todos, algo plural. Observo de longe, com o intuito de flagrar o processo natural, sem poses, espetáculos. Atrás dos obstáculos, perde-se o foco, mas logo ele encontra a linha do sentimento. Não é um nome, uma pessoa exata que quero captar. Importa enxergar por dentro, preservar alguma cadência, sutil essência da existência em deslocamento.
Alina Souza