Equilíbrio e flexibilidade. Como são impressionantes estas qualidades assim, juntas. Plenamente expostas. Pensei nisso ao acompanhar brevemente o ensaio do espetáculo Disney On Ice em Porto Alegre. Deixei os pensamentos deslizarem pela pista, como faziam os pés destes patinadores, oscilantes entre movimentos de impulso e determinação e movimentos sutis, livres, um deixar-se levar, leve, rasgando o tempo, abrindo espaço, fluindo. De repente, um giro, uma abertura, um transbordamento. O corpo firme, apesar da base tênue, do chão escorregadio. Resultado de muito treino e falhas, deduzi. Devem ter caído várias vezes antes de chegar a esse ponto. Devo treinar mais na vida também. Não é da noite para o dia que consigo manter-me equilibrada enquanto as circunstâncias puxam de um lado, as vontades puxam de outro. Tampouco aprendo a ser mais flexível se persistir com juízos de valor feito estacas no âmago. Devo exercitar-me. Sentir dor, aceitar os tombos, acreditar. Até que um gesto de ousadia certeira se desprenda do próprio fôlego, questione e supere todos limites pressupostos.
Alina Souza