Do inverno, gosto mesmo é das bergamotas. Considero a imagem mais viva e agradável dessa estação que passa por mim sem despertar muita simpatia. Fria, fechada, pesada, na dela. Até tentamos um entendimento, mas logo o vento gelado ataca a rinite, o assunto fica para outra hora. Há quem a espere com ansiedade, a idolatre, e gosto é gosto, não se discute. Eu torço para que ela não cometa excessos, não se vingue do meu sutil mau humor com temperaturas negativas. Pegue leve, permita-me comer bergamotas em um dia ensolarado, ao lado de quem me faz feliz. Alma agasalhada. Só isso que peço. Sem congelar os dedos, sem castigar as centenas de desabrigados nas ruas da cidade. Amena, branda. Mas, que não perca a personalidade, não se anule diante do verão e sua mania de aparecer onde não foi chamado. No fundo, sou otimista, penso que ela ainda me mostrará um sorriso na face semioculta pelas peças de lã e eu vou oferecer uns gomos da melhor fruta que já tive em mãos. Um sincero pedido de amizade.
Texto e fotos: Alina Souza
Alina Souza