A vida é grande demais e os olhos querem tudo alcançar, mas começo pelos detalhes, naquilo que parece ínfimo, discreto, passageiro. Cenas e personagens que amanhã já não estarão mais no mesmo lugar ou, se estiverem, eu não serei mais a mesma, pois as sensações se deslocam, da noite para o dia. Crescer é esse sutil movimento de estruturas internas combinado ao resgate das camadas profundas. Parei para observar o homem envolvido no trabalho pormenorizado em um prédio histórico no centro da capital. Enquanto transeuntes seguiam suas órbitas em torno do futuro, o trabalhador se detia naqueles arcos do passado. Pensei no poder da paciência, do capricho, dessa energia que perpassa as mãos e vai para os objetos, para o mundo. É maravilhoso pincelar sobre as superfícies um pouco do desejo de carinho que nos percorre e nos movimenta. Queremos ser tratados com apreço, mas quantas vezes investimos ternura e cuidado nas atividades, nas relações, nas circunstâncias ao nosso redor? O caminho pede afeto, concentração e, sobretudo, a perspicácia de um restauro.
Alina Souza