Recebi de um hacker aposentado, que mora no Rosa, um arquivo com uma conversa entre Donald Trump e o seu secretário pessoal. O material é altamente sensível e só divulgo pela sua relevância histórica. A conversa permite tirar importantes conclusões sociológicos sobre a solidão dos poderosos, ainda mais os destemperados. Possibilita também que se avalie a cadeia hierárquica no topo do poder. Nem tudo são flores. Ou são coroas. Não perderei mais tempo com introduções. Entrego ao leitor o que nem o Intercept conseguiu: Trump na intimidade do gabinete nestes dias finais do “maior mandato de todos os tempos”.
– Liga para o Brad?
– Qual Brad, Presidente?
– Ora, qual, o da Geórgia.
– De novo?
– Qual o problema? Diz que preciso de onze mil votos para virar esta eleição. Fala que ainda podemos reverter este jogo. Ganhamos.
– Ele já disse que terminou. O senhor perdeu. Nada pode fazer.
– Quem ele pensa que é? Diz para imprimir os votos e pronto.
O secretário não ligou. Trump ficou dando tratos à bola. A imagem mostra que ele parece pensar sobre o fim dos mandatos. Recebeu um café frio e cogitou fazer a ligação do seu próprio celular. Não achou o número de Brad, que havia deletado depois da última conversa.
– Liga para o Mark.
– Qual Mark?
– Ora, qual!
– Qual, Presidente?
– O Zuckerberg, ora. Diz que quero minha conta no Face de volta.
– Ele já avisou que isso só depende do algoritmo.
– Falou isso?
– Sim. Disse que é mais fácil o senhor achar onze mil votos.
– Ameaça, vai.
– Com o que, Presidente?
– Diz que vou para o Tik Tok?
Mais uma vez, o secretário não obedeceu. Donald Trump teve um rompante. Destacou a sua posição de homem mais importante do mundo. Lembrou da sua condição de investido pelo voto até o último segundo. Debochou dos que gostariam de vê-lo preso ou afastado. Foi Trump.
– Chama a Melania, Diz que quero falar com ela agora mesmo.
– Ela disse que não vem.
– Como não vem?
– Está preparando as malas.
– Malas. Ela vai viajar?
– As suas, presidente.
Trump rodou pelo gabinete. Voltou a sentar-se. Parecia calcular uma estratégia mortal. Depois de muita reflexão, voltou ao ataque.
– Preciso que faças uma conta fake para mim no Twitter.
– Não posso fazer, Presidente.
– Por que não?
– Todos os meus dispositivos estão bloqueados.
– Mas, afinal, com quem eu ainda posso contar?
– Tem o Lukashenko, Presidente.
– Para com isso. Não quero apoio da esquerda.