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Verão

Especial

1968 na Feira do Livro

Foi há 50 anos. Faz tanto tempo.



Parece que foi ontem. O ano de 1968 ecoa na memória de muita gente como um filme inesquecível e melancólico. Houve o maio de 1968 com suas utopias luminosas. Houve o sombrio dezembro de 1968 com o AI-5. Resolvemos encarar tudo isso. Três professores – eu, Álvaro Laranjeira (Universidade Tuiuti do Paraná) e Christina Musse (Universidade Federal de Juiz de Fora). Três Grupos de Pesquisa ligados a programas de pós-graduação em Comunicação: o JorXXI (Tuiuti), o Grupo de Tecnologias do Imaginário (PUCRS) e o Comunicação, Cidade e Memória (UFJF). Uma rede de pesquisa, a Rede JIM (Jornalismo, Imaginário e Memória).

Com nossos mestrandos e doutorandos em Comunicação decidimos pesquisar o que houve em 1968 e como o maio francês repercutiu entre nós. Como foi na Europa e nos Estados Unidos? Como repercutiu em Porto Alegre ou em São Luiz do Maranhão? E dezembro? Como foi? Recorremos aos jornais da época e a quem viveu aqueles dias, jovens de então, jornalistas, mulheres num momento de luta por emancipação, tantas biografias e trajetórias. Fizemos encontros em Porto Alegre, Curitiba e Juiz de Fora para apresentação dos resultados provisórios ou definitivos das nossas pesquisas. O resultado é o livro “1968, de maio a dezembro” (Sulina).

Em nosso livro o leitor encontrará o trabalho apaixonado de pesquisa da Aline, da Laís, do Marco Aurélio, da Cláudia e da Marcela, do Tarcis, do Franco e do Moisés, do Anderson, do Antonio Carlos, da Larissa, da Paula e da Patrícia, da Roseli e da Talita, da Isabella, da Luana, do Manuel e da Mauren, do Ramsés e do Carlos Eleonay e do Wagner. Gaúchos, paranaenses, mineiros, maranhenses e por aí vai. Um mosaico, um caleidoscópio. Um apanhado de vozes como as de Flávio Tavares, Carlos Bastos, Núbia Silveira e tantos outros nomes do nosso melhor jornalismo em ação em 1968.

Fomos investigar perto e longe. Há depoimentos de norte-americanos que viveram 1968 em Nova York. E o olhar de quem viveu o 1968 francês em Paris: Michel Maffesoli, Gilles Lipovetsky, Dominique Wolton, Luc Ferry. Ou entre Paris e o exterior, como Edgar Morin. Ou na cadeia como Régis Debray. Ou como adolescente, caso de Michel Houellebecq. Ou no interior da França, como o historiador Jean-Pierre Le Goff, autor de “Maio de 68, a herança impossível”. O que sonhavam? O que pretendiam? O que pediam e podiam aqueles que sacudiram o mundo em 1968? O que fizeram? Uma revolução? Uma ruptura? O que restou disso tudo? Um novo mundo comportamental? Nada?

De maio a dezembro – O sociólogo Michel Maffesoli tinha 24 anos na época. O seu balanço é luminoso: “Maio de 68 teve algo de estreia (no sentido teatral do termo) ou mesmo de ensaio na encenação dos valores da pós-modernidade. Estes incluem o fim do individualismo e o surgimento do nós, a atenção ao corpo e não só à mente, esteticismo do mundo (ver os cartazes e slogans que se chocam o estilo político anterior) e, claro, o primeiro questionamento do trabalho como valor de mercado”. Mudar era a ordem.

Balanço em pontilhado: “A interpretação historicizante da mídia vê em maio de 68 uma ruptura, uma fratura mesmo com o passado. Eu não diria isso. Maio de 68 continua a marcar o nosso presente, mas não o determinou. É antes uma espécie de chama, uma luz que continua a brilhar em nossa imaginação, uma doce nostalgia da juventude passada, um alegre estímulo para viver aqui e agora, em suma, um momento eterno”. Memórias sem amargura. Maffesoli não cobra de 1968 a revolução jamais prometida.

A jornalista Núbia Silveira nos remete para o 1968 em Porto Alegre: “Quando começaram as manifestações aqui, a gente saia para cobrir e, logicamente, tinha uma repressão muito grande, era uma repressão diferente de hoje, pois hoje eles [polícia sabem que vai ter uma grande repercussão, há um receio de reprimir com muita força, o que não acontecia em 68, pois pressupunham que não seria divulgada toda aquela repressão, fotos, coisa e tal. Tinha gente mais corajosa que ia para frente tentar cobrir, tirar fotos”. Um mundo de emoções que volta aos jorros passados 50 anos.

Um dos artigos do livro, de Álvaro Laranjeira, conta até, apoiado em documentos, sobre o dia em que Jânio Quadros, confinado pela ditadura em Corumbá, foi acusado de assedio sexual por uma camareira. Além de relatar como foram preparados atentados pela extrema-direita para incriminar a esquerda e preparar a decretação do AI-5. Nada foi feito por acaso. Os arquivos guardam a história que alguns querem apagar. O passado informa. Resta saber se o presente quer saber para melhor preparar o futuro.

Neste domingo, às 17 horas, no Salão de Bridge, no Clube do Comércio, como atividade da 64ª Feira do Livro de Porto Alegre, estaremos reunidos para falar de “1968, de maio a dezembro” a quem quiser ouvir. E falar. Será permitido relembrar. O Flávio Tavares, a Núbia e o Carlos Bastos garantiram que vão. Vai ser um deleite ouvir qualquer um deles. Depois, às 19 horas, todos nós, autores, autografaremos o livro  no Memorial do RS.