Admito que não sei:
Não sei o que me deixa louco
Por saber tão pouco sobre mim,
Este ser que construí e desconheço
Quando desperto do avesso.
Confesso que errei
Quando corri pelo deserto
Em busca do paraíso perdido.
Não sei fazer o mínimo,
Descascar pêssego, colher avencas,
Limpar as lentes, usar o controle remoto.
Errei querendo ser o máximo,
Não sei com quantos paus se faz uma canoa
Errei lançando meus navios em guerra
Não sei quanta água havia na lagoa da minha infância
Errei deixando para trás o cheiro de terra molhada
Não sei mais o valor do Pi
Muito menos para que ele serve,
Ouvi dizer que a história mudou
Derrubando estátuas de escravagistas
E de outros heróis assassinos
Errei quando não vi o cavalo passar encilhado
E fui colher figos sob a chuva da madrugada
Tenho saudades da nossa cama
Me lembro de certa dama que passava
Não sei por onde andei quando errava.
Sou do tempo em que a poesia fazia estrago.