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Verão

Especial

Crônica de verão

Aquilo que citamos revela o que somos?

Leio. Escrevo. Verão é assim. Praia, sol, livros, política, futebol e viagens. Quando saiu “Sapiens”, de Yuval Harari, no Brasil, escrevi meia-dúzia de textos sobre ele aqui. Fui pioneiro. Merecia medalha. Ninguém falava nele. Eu o elogiava fartamente. Depois, veio “Homo Deus” e aí foi aquilo. “Sapiens” saiu pela gaúcha L&PM, uma das melhores editoras do país. O autor só explodiu mesmo quando publicou pela Cia das Letras, a queridinha da mídia de Rio de Janeiro e São Paulo, os dois estados mais bairristas do país, que se acham sem sotaque e cosmopolitas. Coisa de provincianos. Brasil, Brasil. Agora, ando às voltas com Leonard Mlodinow. Esse todo mundo já conhece. Está na moda. Neurociência, folhas verdes, leito de rúcula, coisas assim. Leitura blockbuster de ótima qualidade e grande utilidade.

      Recolhi algumas citações feitas pelo autor. Gandhi: “A nossa luta é contra a degradação que nos querem infligir os europeus, que nos querem degradar até o nível dos kaffir [africanos negros]... cuja única ambição é colecionar certo número de gado para comprar uma esposa e depois passar a vida na nudez e na indolência”. Che Guevara: “O negro é indolente e preguiçoso, e gasta o seu dinheiro em frivolidades, enquanto o europeu tem perspectivas, é organizado e inteligente”. Abraham Lincoln: “Direi que não sou, nem nunca fui, a favor de fomentar de maneira alguma a igualdade social e política entre as raças brancas e negra... Há uma diferença física entre as raças branca e negra, e eu acredito que ela impedirá para sempre que as duas raças vivam juntas em termos de igualdade política e social... tanto quanto qualquer um, sou a favor de conferir posição superior à raça branca”.

O que pretendo? Dizer algo como “quem nunca”?

      Aliviar tardiamente a barra do general Mourão, antes de ele virar progressista, pelas afirmações sobre malandragem africana e indolência indígena? Defender o relativismo histórico absoluto? Comparar Lincoln e Gandhi com Che Guevara? Mostrar que todo mundo em algum momento erra, mas que alguns mudam para melhor e outros para pior? Compartilhar essas citações boas para comentar no bar depois que já se esgotou a discussão sobre a disparidade dos times no Gauchão? Fornecer material para polêmicas?

Tudo isso. Afinal, o tempo não para mesmo se ele não envelhece.

Serviço completo. Leonard Mlodinow diz que é impossível fugir do nós e eles, “in-group” e “out-group”, of course. Quem diz que é possível só quer submeter o eles ao seu “nós”. O culpado seria o nosso cérebro classificador e opositor. Adoramos pertencer a algo por oposição a outro. Sou da tribo Mac. Abomino a turma PC. A propósito, que acham desta sacadinha de Mlodinow? “As pessoas encontram razões para continuar apoiando os candidatos políticos de sua preferência mesmo quando eles são acusados de graves e comprovados deslizes; mas acreditam em comentários de terceira mão sobre qualquer ilegalidade como prova de que o candidato do outro partido deveria ser banido da política de uma vez para sempre”. Não cabe com uma luva para... Petistas, bolsonaristas, tucanos e demais?

O Brasil virou um laranjão?

Há quem tenha laranja de estimação?