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Verão

Especial

Da importância de crer no Papai Noel

Inocências que fazem da vida uma obra de arte

Há sempre em mim essa vontade inquebrantável

De fazer da vida uma permanente obra de arte,

Viver intensa e apaixonadamente a minha parte.

 

Essa parte que nos cabe por nascimento,

Mas que nos obrigam ao lento esquecimento,

Como o direito de tomar banho de chuva,

Soltar pandorga, manchar os lábios de uva.

 

Essa parte que sangra, corta e inflama,

Essa parte que fustiga, fere e clama

Pela liberação dos mais puros instintos,

Banhados ou purgados com velhos tintos.

 

Há sempre em mim essa arte insofismável,

Essa bendita maldição que me unge e atordoa,

Impelindo-me a querer morrer pela vida,

Sair pela noite buscando algo que me doa.

 

Há sempre em mim essa ânsia incontrolável,

De correr pelas ruas como um menino feliz,

Guardando no bolso apenas o bilhete de ida,

Não importa que eu tenha de quebrar o nariz.

 

Há sempre em mim essa clareza nua do marfim,

Saltando poças cristalinas em meio ao alecrim,

Que me leva a arrancar a roupa e a dizer sim, sim,

Quando teu corpo surge como um abismo diante de mim.

 

Há sempre em mim esse grão, esse farelo,

Essa entrega violenta e incontornável,

Essa arte de inventar tantos novos ardis,

Essa carne pulsando por aventuras infantis:

 

Pintar o sol de azul e o céu de amarelo,

Chamar meu cão de grande imperador amável,

Regar as plantas com vinho e pontos de carmim.

Beber entre em ti a água mais potável.

 

Há sempre em mim essa esperança que não morre.

Esse rio que, apesar do tempo, ainda corre.

Essa certeza de que minha arte, minha parte,

Consiste em viver até a derradeira gota.

 

Fazer da vida uma permanente obra de arte,

Não importa se obra-prima ou poesia sem rima,

Não importa se obsessão ou desejo irrefreável,

Não importa se combustão ou loucura incurável.

 

Se eu pudesse reinventar a minha vida,

Eu faria, no meu papel de velho artista,

Um desenho, ao mesmo tempo, novo e igual.

 

De todos os meus tantos e graves erros,

Não cometeria, garanto, juro, um só:

Andar por aí errando em busca de acertos,

Transformando as melhores fantasias em poeira.

 

E ter deixado tão cedo de crer no Papai Noel.