person Entrar

Capa

Notíciasarrow_rightarrow_drop_down

Esportesarrow_rightarrow_drop_down

Arte & Agendaarrow_rightarrow_drop_down

Blogsarrow_rightarrow_drop_down

Jornal com Tecnologia

Viva Bemarrow_rightarrow_drop_down

Verão

Especial

Estamos condenados ao fracasso?

 Uma das perguntas de Niall Ferguson, em “Civilização – Ocidente X Oriente”, é mais ou menos esta: por que Simão Bolívar não se transformou num George Washington unificando a América do Sul? Por que seu projeto falhou? O próprio Bolívar esboçou a resposta num momento de pessimismo: “Governei por vinte anos, e destes obtive apenas algumas certezas: (1) A América [do Sul é ingovernável para nós; (2) Aqueles que fazem uma revolução lavram o mar; (3) A única coisa que se pode fazer na América é emigrar; (4) Este país inevitavelmente cairá nas mãos das massas desordenadas, e então passará, de maneira quase imperceptível, às mãos de tiranos mesquinhos, de todas as cores e raças; (5) Uma vez que tenhamos sido devorados por cada crime e extintos por absoluta crueldade, os europeus nem sequer considerarão que somos dignos de ser conquistados; (6) Se fosse possível que alguma parte do mundo retornasse ao caos primitivo, seria a América em seu momento final”. Estava deprimido?

Previa a existência de políticos como Maduro e Temer?

O tema segundo o qual a única saída é a saída – o aeroporto – já se encontrava presente como emigração por desencanto. Estamos condenados ao atraso, ao fracasso, aos demagogos tiranetes como Nicolás Maduro e aos obscuros articuladores de bastidores como Temer? Niall Ferguson acha que a diferença fundamental entre os Estados da América e a América espanhola está no fato de que uns vieram para saquear e outros para se implantar, cultivar a terra e trabalhar. O regime de distribuição da terra teria desde o inicio definido o destino de cada parte. Em 1900, “o índice de proprietários rurais nos Estados Unidos era de 75%”, enquanto isso, em 1910, no México, “apenas 2,4% dos chefes de família nas áreas rurais eram donos de alguma parcela de terra”. Em 1958, no Peru, “2% dos proprietários de terras controlavam 69% de todas as terras aráveis”. Quando Jango caiu por ter tentado fazer a reforma agrária, 73.737 proprietários ocupavam 58% da área total de hectares úteis para cultivo.

Niall Ferguson atreve-se a perguntar para nosso constrangimento: “Por que o capitalismo e a democracia não prosperaram na América Latina?” A sua resposta é simples como um discurso de Bolívar: porque não se investiu desde o começo em propriedade para todos e em democracia (mesmo com mais direitos para proprietários mais aquinhoados como nos lugares dos Estados Unidos cobertos por uma “constituição” escrita por John Locke, que se baseava em trabalho escravo e, no caso de brancos, por servidão contratual temporária). E agora, José? Como sair dessa?

Falta um estadista que nos arranque da mediocridade? Numa palestra que fez para comemorar o segundo ano do Estado Novo, a convite do Departamento de Imprensa e Propaganda, o famigerado DIP, Marcondes Filho, então atuando no campo jurídico, depois de ter sido opositor de  Getúlio Vargas em 1930 e em 1932, bajulou como lhe foi possível o ditador. Viraria ministro do Trabalho e assinaria a CLT em 1943. O texto foi recuperado num arquivo pelo pesquisador Álvaro Laranjeira. O palestrante faz uma interessante citação de uma fala de Getúlio Vargas em 1925 ainda na condição de deputado: “No descontentamento dos tempos que correm, há a surda fermentação social de um novo mundo que surge sob o esboroamento das instituições decrépitas”.  Será o caso neste momento?

Marcondes Filho referiu-se aos republicanos que “lutaram e sofreram porque viveram no ciclo em que a carta constitucional caminhava para uma direção e realidade para outra”. Nada mudou? A Constituição atual, porém, permite emendas que garantam ao povo, origem de todo poder, dar vazão ao seu descontentamento em fermentação e refundar o contrato social para tirar o país do esboroamento das instituições e dos políticos decrépitos. Ou investiremos no paradoxo do que o voto indireto, por um parlamento afundado em suspeitas de corrupção, é mais democrático do que o voto direto? Um argumento aparece: a emenda constitucional terá de ser aprovada pelos parlamentares sob suspeita. Dos males, o menor. É melhor que eles escolham o presidente da República ou devolvam a todos a possibilidade de fazê-lo neste momento de crise?

Há quem deseje evitar a eleição direta por medo de que Lula se eleja. É uma possibilidade ou um perigo. A decisão, ainda assim, seria do eleitor. Quem melhor do que o eleitor para decidir quem deve governar o país? O resto é lavrar no mar para garantir as terras aos de sempre. Viveremos o paradoxo de ver manifestações de rua por eleições indiretas? Tentaremos domar a natureza da democracia? Bolívar levou a ideia cartesiana moderna ao extremo: “Se a natureza está contra nós, nós lutaremos contra ela a forçaremos a nos obedecer”. Será também essa umas das razões de nossos problemas? Tentar fazer a natureza obedecer não é como lavrar no mar ou preferir a eleição indireta ao voto popular? Uma coisa parece certa: há descontentamento com a decrepitude da política.

O Tribunal Superior Eleitoral pode responder a partir de hoje à questão: estamos condenados ao fracasso? Se cassar a chapa Dilma-Temer, como mandam os fatos, dará um passo rumo ao futuro.

Se preservar Temer, mostrará que é uma instituição do passado.

Façam as suas apostas, senhores!