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Verão

Especial

Lado, partido, isenção e verdade

Jornalista pode ter lado?

Jornalista deve ter lado.

Mas não sempre o mesmo lado.

O seu lado deve ser sempre o lado da verdade.

Qual a verdade?

A que os fatos e a sua consciência indicam.

O lado do jornalista deve contrariar partidos sem disso resultar uma contradição.

Num assunto qualquer o lado do jornalista pode coincidir com o de um partido. Em outro assunto, porém, pode chocar-se com o do mesmo partido. É acaciano, secular, cotidiano, rotineiro, banal.

Na abolição da escravatura, os jornalistas tinham a obrigação de estar do lado da liberdade.

Nem todos estiveram.

Ter lado não é ter partido.

Ter lado não significa não ter isenção.

Ter lado implica avaliar cada situação, à luz dos fatos e das suas interpretações, e ficar com o lado justo.

Há muito tempo os franceses Michel Maffesoli e Jean Baudrillard, por caminhos diversos, decifraram o jogo da política contemporânea: tribalização e encenação. Nada de racionalidade e de argumentação.

O espetáculo do último domingo na Câmara dos Deputados mostrou uma guerra de tribos.

Cada deputado votou para a sua tribo.

No teatro das operações, prevaleceu a encenação do cinismo e da hipocrisia.

O Brasil se viu no espelho. Um choque.

Na racionalidade, cada deputado teria de apresentar argumentos relativos ao crime de responsabilidade atribuído à presidente da República. No deslizamento escandaloso, adotou-se um parlamentarismo de ocasião e aplicou-se um voto de desconfiança ao governo não existente na regra do jogo em vigor.

Aquele que diz, no presidencialismo, que o julgamento de um crime de responsabilidade é político, por ser julgado por políticos, pratica de crime de irresponsabilidade intelectual. Rebaixa o debate.

Os fins justificam os meios?

Eduardo Cunha é um meio podre para atingir um fim nobre?

A moralização como fim pode contar com a imoralidade como meio?

A votação da Câmara dos Deputados não foi um teatro. Foi um circo de horrores.

Viu-se a indigência intelectual e moral dos nossos representantes.

Viu-se o oportunismo, o interesse pessoal, a demagogia, o conservadorismo, o preconceito, o cinismo, o jeitinho, a marola, a safadeza, a mentira e o ardil prevalecerem sobre qualquer outro valor.

Passado o circo dominical, o deputado paranaense Osmar Serraglio (PMDB) já pede anistia para Eduardo Cunha pelos serviços prestados. O STF, que julgará se Lula pode ser ministro, interferindo no executivo, não quis julgar se Eduardo Cunha podia continuar como presidente do legislativo.

Ter lado, ensinava Baudrillard, é expor os paradoxos de cada acontecimento.

Outro francês, Guy Debord, criador do conceito de sociedade do espetáculo, lamentava que tudo que era vivido diretamente tivesse se tornado representação. Passamos a ser meros espectadores.

O ápice foi o voto em homenagem ao torturador.

A ironia é que a verdade não prevalece quando a a indignação moral confunde partido com lado.

São aqueles homens e mulheres histriônicos que fazem as nossas leis?

São aqueles seres descontrolados e rasos que nos representam?

São aqueles atores medíocres que encenam o espetáculo da nossa política?

Cai o pano. Os próximos capítulos serão ainda mais deprimentes.

Em Palomas, Dona Marcolina resumiria: "Uma tropa de farsantes!"

Ela queria dizer uma troupe de comediantes!