Lá vai Dom Benito,
gaúcho lendário,
No seu cavalo de luz
Envolto num poncho sudário
De baeta encarnada
Atravessa as fronteiras
Sem medo de nada
Sem eira nem beira
Repontando a tropilha
Galopa, galopa, galopa,
coberto de poeira,
O último herói farroupilha
Cavalgam-lhe solitas no peito,
lanhadas pela imaginação,
Lembranças dos feitos
Malevas de revolução.
Pampa e tapera
Arma e cartuxo
Palomas ainda espera
a volta do Bruxo
Doma, contrabando e sovéu
Degolas ao léu e tropeadas
Dom Benito rasga as estradas
Em busca da invernada do céu
Pachola e franzino
Sem nada de seu
Janguinho menino
Segue o gaudério
Saudoso do que não viveu
Trago, mulher e bagual
Pampa, curral e carpeta
Palomas espreita o rastro
da derradeira carreta.
Crepúsculo e aurora
Dom Benito e Janguinho
Marcham campo afora
Como um ginete sozinho
Pampa e fronteira
Numa mesma visão
Na Palomas caborteira
Dom Benito e Janguinho
pastoreiam a solidão
Por eles ainda dobram os sinos
Da capela da sina-sina
Por eles ainda chora o vento
Dos últimos anos de desalento.
Por eles ainda tomba o aguaceiro
Olhos turvos vigiam
À sombra dos pessegueiros.
E Palomas dorme no berço da cordilheira,
Ao canto do eterno,
A saudade da sua história inteira
Enquanto não chega o negrume do inverno.