Eis um pequeno grande livro. De formato diminuto, cabe no bolso, “Pequeno manual antirracista”, de Djamila Ribeiro, traz gigantescas reflexões. O cardápio não permite recusas: informe-se sobre o racismo, enxergue a negritude, reconheça os privilégios da branquitude, perceba o racismo internalizado em você, apoie políticas educacionais afirmativas, transforme seu ambiente de trabalho, leia autores negros, questione a cultura que você consome, conheça seus desejos e afetos, combata a violência racial e sejamos todos antirracistas. Direto.
Uma grande aula sobre o racismo estrutural da sociedade brasileira. Paradoxos e contradições são desvelados: “Como vimos, a maioria das pessoas admite haver racismo no Brasil, mas quase ninguém se assume como racista”. Amparado em finas análises, em consistente bibliografia e em farta estatística, o livro aborda temas como apropriação cultural, cotas, escravidão, imigração, expressões racistas utilizadas corriqueiramente como se não o fossem e artimanhas para tentar dissimular o preconceito como a do chamado “negro único”.
É a empresa que se defende: “Veja só, não somos racistas, temos o Fulano, que é negro, trabalhando em tal departamento e, inclusive, ele adora trabalhar aqui, não é mesmo, Fulano”. Constrangido, intimidado, temeroso, Fulano concorda. Djamila desmascara: “Dessa forma, é preciso romper com a estratégia do ‘negro único’: não basta ter uma pessoa negra para considerar que determinado espaço de poder foi ‘dedetizado contra o racismo’”. Os brancos têm um papel a desempenhar na luta contra o racismo. Precisam agir. Sair da omissão.
Djamila Ribeiro argumenta: “É fundamental que as pessoas brancas compreendam os mecanismos pelos quais o racismo opera, pois podem reproduzi-los acreditando estarem imunes por terem um marido, uma esposa ou um filho negros”. O racismo tem mil formas de expressão. Uma delas é a ausência. Em determinadas situações, negros não aparecem: “Quando assistir a um filme ou a uma novela, procure refletir sobre a presença ou a ausência de atores e atrizes negros. Quantas pessoas negras estão atuando? Que personagens interpretam? O mesmo vale para qualquer produto cultural: quando for a uma exposição de arte, a uma festa literária, a um debate sobre poesia, quando ler um livro ou folhear uma revista”. Onde estão negros? Em que papel? Dizendo o quê?
Tem mais: “E, para você que pode contratar profissionais da cultura ou investir em projetos culturais, reflita quem você escolhe para a equipe e quais temas estão sendo tratados. Você está fazendo o que para contribuir para a luta antirracista?” Em geral, nada. Processo de seleção costuma revelar os preconceitos internalizados. As escolhas, pretensamente objetivas, deixam vazar subjetividades inconfessáveis. O racismo é um infame sistema de hierarquia social que se reproduz com seleções por aparência e chama de meritocracia as marcas da desigualdade histórica. Está com dificuldade em encontrar um presente para alguém, não hesite: “Pequeno manual antirracista”.