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Verão

Especial

Marielle, CNN, coronavírus e Bolsonaro

A estranha lógica do Capitão

      Jair Bolsonaro comandou entrevista coletiva sobre o coronavírus.

Depois da doença instalar-se no Planalto, atingido seu braço direito, o general Heleno, ele foi obrigado a reconhecê-la. Botou máscara e foi ao front.

Um circo. Bota máscara, tira máscara, pendura máscara na orelha.

Racionaliza: abraçou simpatizantes nas manifestações do último domingo? Sim. Mas a CNN fez festa de inauguração com mais de mil pessoas. Esse é o capitão: se outros fazem, por que ele não faria? Por que cobram dele? Só por ser o presidente da República? Bolsonaro não percebe a dimensão do seu cargo.

Enquanto isso...

Já se completaram dois anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes. Os assassinos foram, enfim, pegos. O mandante ainda não foi identificado. Não se encontrou o carro usado para cometer o crime nem a arma utilizada na execução. Se a justiça é lenta, a polícia do Rio de Janeiro parece nem se mexer. Marielle era mulher, negra, gay, de esquerda (PSOL) e denunciava a violência policial e miliciana contra moradores de periferia. Tudo nela incomodava alguns. Morta, o seu nome correu o mundo. Só não apressou as autoridades no esclarecimento do crime. Não faltaram pistas falsas.

      Também não faltou corpo mole ao longo da investigação. Nove cartuchos do lote UZZ18, de uso exclusivo da Polícia Federal, foram encontrados no local do crime. O primeiro delegado encarregado do caso, Giniton Lages, cometeu tantos erros de apuração que precisou ser trocado. Presos, os acusados continuam negando participação no crime. Um deles apresenta um álibi “poderoso”: estaria vendo um jogo do Flamengo num bar na hora do homicídio. Os supostos mandantes até hoje especulados garantem nada ter a ver com o ocorrido. São eles o ex-vereador Cristiano Girão e o ex-deputado Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Se o mundo aguarda uma solução, o Brasil segue quase indiferente ao tempo.

      Marielle defendia princípios odiados pelos inimigos do chamado politicamente correto e das questões de gênero e classe: direitos humanos, dignidade de todos, igualdade social e Estado democrático e de direito sem atropelos às garantias individuais fundamentais. Era uma mulher corajosa em ascensão política que fazia da sua vida uma obra de conscientização e de luta contra violências e preconceitos. Representava uma sensibilidade contra a qual se levanta o obscurantismo crescente no imaginário de uma nova extrema direita. Os acusados de matar Marielle e Anderson são o policial aposentado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz. Será que isso dificulta o andamento da investigação? Haveria corporativismo nessa parada?

      Em 2018, dois candidatos a deputado pelo PSL, Daniel Silveira e Rodrigo Amorim, quebraram uma placa de rua em homenagem a Marielle Franco. Foram recompensados com votação expressiva. Amorim foi o deputado estadual do Rio de Janeiro eleito com a maior votação. O vírus da estupidez não costuma ter limites. Marielle carregava outro atributo que desperta a fúria de certos machos: era feminista. É incrível como essa palavra pode transformar alguns que se dizem homens de bem em desvairados defensores de uma suposta “ordem natural” na qual o sexo masculino sempre aparece no topo da hierarquia social. Esse imaginário tóxico suporta mal a transformação que a sociedade vem sofrendo. Quanto mais o seu mundo se desmancha no ar, mais escoiceia para salvá-lo.

      Marielle encarnava o combate ao racismo, ao machismo, à violência policial, à corrupção e à discriminação contra as periferias. A melhor homenagem que se pode prestar a ela é descobrir quem mandou matá-la.

Marielle foi assassinada. Todo mundo sabe.

Em tempos de coronavirus, o Brasil pede um choque de esclarecimento.