person Entrar

Capa

Notíciasarrow_rightarrow_drop_down

Esportesarrow_rightarrow_drop_down

Arte & Agendaarrow_rightarrow_drop_down

Blogsarrow_rightarrow_drop_down

Jornal com Tecnologia

Viva Bemarrow_rightarrow_drop_down

Verão

Especial

Minha pequena homenagem ao abolicionismo da revolução farroupilha

Zelaya completou oito dias na embaixada brasileira | Foto: CARACAS, Venezuela (AFP)
Um trecho do meu livro "História regional da infâmia: o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras, ou como se produzem os imaginários"

Em 25 de outubro de 1845, Almeida comete o documento ignominioso. Em carta a David Canabarro, pede o testemunho do último chefe do exército farroupilha em seu favor numa causa infame: “Com a ocorrência de 15 de junho de 1836 que pôs a capital da Província em poder de nossos antagonistas, forçoso foi para cada um de nós, além de nossos serviços pessoais, concorrer com a quota que nos foi possível agenciar para obter objetos bélicos e todos os meios de prosseguir na empresa em que nós achávamos empenhados: a mim, pois, me coube despender no conserto da escuna ‘2 de Junho’, no armamento da escuna ‘30 de Maio’, na criação do Trem de Guerra, no feitio de roupas para o exército, e no suprimento de quantias à soma de Rs. 3.647$455...”. O financiador queria então receber.

Para sustentar a sua reclamação, explicava como financiara a parte que lhe coubera num movimento revolucionário cujos herdeiros ainda pretendem que tenha sido abolicionista: “Prevendo os resultados da retirada de 4 de janeiro de 1837 se nossos companheiros não fossem de pronto socorridos de cavalgadura, roupa, fumo e erva, nesse mesmo dia despachei 35 escravos, que de minha propriedade tinha já no departamento de Cerro Largo, com Vicente José Pinto para serem vendidos em Montevidéu e seu produto aplicar a esse importante fim”. A revolução farroupilha foi, portanto, financiada com a venda de homens. Uma revolução por igualdade, liberdade e humanidade sustentada com a venda de negros. Almeida ainda precisou para que o seu interlocutor não o tomasse por desonesto: “Tais escravos foram com efeito vendidos a Manuel Gonçalves da Costa, e pouco depois dois mais: um a José Tavares, de Taquari, em pagamento de cavalos que lhe comprei para o exército...”. Uma verdade incômoda.

Almeida apresenta provas documentais e garante que as quantias foram “fielmente aplicadas na manutenção da guerra”. Para confirmar que estava falando rigorosamente a verdade, recorre ao testemunho imparcial do inimigo. Correspondência sua ao general Neto, de 23 de março de 1839, sobre o caso, tendo caído em mãos dos adversários, havia sido impressa no jornal “O Mercantil do Rio Grande”, o que, segundo ele, “tanto me havia de servir um dia essa impressão para mostrar pelo veículo do inimigo a veracidade dos fatos”. Almeida dizia tudo isso a Canabarro para combater a “torpeza” e as “negras calúnias” que o faziam sentir “agonias mortais”, o que o obrigava a “apelar para o reto bom senso e a probidade de V.Sª”. No imaginário dos homens comuns, revoluções pela igualdade e pela humanidade normalmente libertam escravos, não se financiam com a venda deles. Ou, seja por decoro ou por discrição, não apresentam a fatura no caixa do novo regime. Era assim, ao menos, na mitologia. Que sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra!