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Verão

Especial

Simulacros e simulações

  Esse título é uma simulação. Simula um título famoso, o do livro de Jean Baudrillard: Simulacros e simulação, que aparece no filme Matrix. Fui amigo de Jean, que morreu há dez anos, em março de 2007. Pude ouvi-lo falar desses conceitos muitas vezes entre um cálice de vinho e até uma caipirinha. No Barranco, eu lhe disse:

– O Brasil é o país dos simulacros e das simulações.

– Não é o país dos paradoxos? – ele me provocou.

– Também. E da ironia.

Ele riu. Mas não esqueceu. Cada vez que eu o encontrava em Paris ele me pedia para contar os últimos simulacros e paradoxos do Brasil. Eu tratava de saber se queria também ironias e simulações.

– Tudo, tudo.

Se encontrasse Jean por agora, diria: nunca tivemos tantos paradoxos, simulacros e ironias no Brasil. Simulação e paradoxo foi o sorteio que escolheu o ministro Edison Fachin para a relatoria da Lava-Jato no STF. Paradoxo: escolheu-se certamente o melhor pelo método pior. Por que o sorteio seria o pior? Porque não foi sequer um sorteio dirigido. Foi um sorteio induzido. Um falso sorteio. Nada contra o uso de um algoritmo ponderando quesitos como ter mais ou menos processos na mesa de trabalho. Mas se um elemento externo é inserido no grupo do sorteio correspondendo de antemão aos parâmetros do algoritmo, o resultado está condicionado. O sorteio foi simulação de impessoalidade e dissimulação de escolha pelos seus organizadores.

– No Brasil nem algoritmo é sério – eu diria a Jean.

A culpa não é do algoritmo, que apenas obedece ao dono. A justiça e a política vivem de conveniências. Dilma foi impedida de nomear Lula ministro sob a acusação de querer dar-lhe foro privilegiado para protegê-lo de Sérgio Moro. Panelas repicaram e ruas se encheram de gente de verde e amarelo contra essa simulação. Michel Temer fez o mesmo agora com Moreira Franco e nada aconteceu. Silêncio nas ruas. Ministros apressaram-se em dizer que as situações são diferentes. Em que mesmo? Talvez no número de citações por delatores.

Parece que Moreira Franco goleia Lula com facilidade. Seriam 34 citações apenas na delação da Odebrecht. Temer simulou reduzir ministérios. Passada a fase de implantação no poder, começou a recriá-los. É o Estado sanfona: encolhe e espicha conforme a necessidade de abrigar amigos e aliados. Qual a diferença em relação a antes? Temer oferece as reformas que a mídia e o mercado sempre sonharam. Terceiriza o poder que tomou do PT ao DEM e ao PSDB.

O Brasil é também o país dos absurdos: médicos vazaram exames da paciente Marisa Letícia e trocaram mensagens desejando que ela morresse. O STF autorizou que Rodrigo Maia (DEM) concorresse a novo mandato para a presidência da Câmara dos Deputados sem que nada no regulamento desse guarida ao parecer do decano Celso de Mello. No Brasil, o “entendimento” permite ao juiz decidir até contra a regra. Afinal, o que é o Brasil? País da ironia, da simulação, dos paradoxos? O povo costuma ter uma fórmula mais simples: país da hipocrisia. Aquilo que não pode para uns é normal para outros.

– Seria possível esperar outra coisa? – perguntaria Jean.

O leigo, também chamado de povo, chama tudo isso de empulhação.

Os políticos usam o termo manobra.

A tradição fala em jeitinho.

Cada um que escolha o termo.

A simulação está feita.