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Verão

Especial

A cruel realidade que não queremos enxergar

A vulnerável realidade da população que vive nas ruas mas que vê a leitura como uma esperança para a humanidade

Emocionado ao segurar os livros, Sérgio relata a importância da leitura | Foto: Ana Júlia Borges / Faculdade São Francisco de Assis / CP

Em Porto Alegre, o número de pessoas que têm as ruas como lar está aumentando consideravelmente. Segundo estimativa feita em julho pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), a Capital dos gaúchos possui 2.679 pessoas em situação de rua. Todavia, infelizmente, dentro da nossa sociedade a população que enfrenta na pele esta lamentável realidade é praticamente invisível. Em detrimento deste triste fato, resolvemos dar voz a quem é excluído e também entender o que eles pensam.

Um fator relevante na vida de todos é a leitura, pois, ela desenvolve não apenas a imaginação, mas também estimula o conhecimento em relação às percepções de mundo. Isto é o que dizem alguns moradores de rua que vivem na Praça da Alfândega, local este que recebe todos os anos a Feira do Livro de Porto Alegre, porém, que em 2020, não pode recebê-la de forma presencial em razão da pandemia de Covid-19.

Mesmo compreendendo que o novo coronavírus está trazendo muitos prejuízos ao redor do planeta e que na capital gaúcha não seria diferente, ao mesmo tempo, as simples pessoas com quem pudemos conversar por algumas horas afirmaram estar chateadas por conta do maior evento literário do Rio Grande do Sul não ser realizado naquele lugar que também é a sua casa.

Sérgio Oliveira Mendes tem 66 anos e se considera leitor assíduo de jornal, entre eles, citou o Correio do Povo. Ele acredita que a leitura é indispensável em nossas vidas. “A Feira do Livro está fazendo falta neste ano”, relatou Sérgio. O homem ainda disse que, em sua visão, “sem leitura, ninguém é nada”. Após a entrevista com aquele simpático senhor, conversamos com mais alguns moradores da “Alfândega”, como a praça é carinhosamente chamada pelos porto-alegrenses. Dentre eles, um homem de 35 anos, que preferiu não se identificar e não ser registrado pelas nossas câmeras.

“Comecei na rua com oito anos, na época, meu pai se jogou na bebida e minha mãe faleceu com câncer. Com o decorrer dos anos, fui para um abrigo, onde me disponibilizaram oportunidades de crescimento e eu não aproveitei, fiz escolhas erradas e aos 18 anos fui preso”, revelou. Durante a conversa, o homem, que mostrava um pouco de desconfiança, foi se tornando mais receptivo, compreendendo que a missão de quem estava ali era escutá-lo e mostrar ao mundo que tanto ele quanto outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades devem ser ouvidas e representadas. Inclusive, agradeceu por estarmos ouvindo seu desabafo já que segundo ele, “ninguém faz isso pelas pessoas em situação de rua hoje em dia”. 

Questionamos qual seria a sua opinião em relação à leitura e aos estudos como um todo. “A leitura melhora nossa comunicação e nos faz pessoas melhores no mundo em que vivemos. Por exemplo, eu me arrependo de não ter cursado Gastronomia, tinha tantos planos de vida. Quando eu cozinho, dentro de mim, gera muito amor e, eu espalho esse amor na comida que faço”, afirmou. “Se hoje eu sei me comunicar é porque li muito jornal, mas um livro que li por completo foi ‘Maktub’, de Paulo Coelho. É uma obra de autoajuda que vem contribuindo muito comigo”, completou.

A doutora em psicologia social e institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e professora da Universidade Feevale, Carmem Giongo, assegura que a literatura, de modo geral, oferece a possibilidade de acesso a outros mundos, outras linguagens, formas de pensar, de sonhar e ter acesso a lugares diferentes. “É sempre um espaço de possibilidades de desejos e de construção de sujeitos. A literatura permite que o sujeito se identifique com outras histórias e que desenvolva a sua subjetividade”, destaca.

Ana Júlia Borges / Faculdade São Francisco de Assis
Fernanda Carvalho / Universidade Feevale
Mateus Oliveira / Faculdade São Francisco de Assis