person Entrar

Capa

Notíciasarrow_rightarrow_drop_down

Esportesarrow_rightarrow_drop_down

Arte & Agendaarrow_rightarrow_drop_down

Blogsarrow_rightarrow_drop_down

Jornal com Tecnologia

Viva Bemarrow_rightarrow_drop_down

Verão

Especial

Blitz!

É um importado, conversível, último tipo. Estaciona mais ou menos onde o policial indica. Mais ou menos. Na verdade, metro adiante e depois de uma dúzia de apitos. Quase derruba um par de cones. O policial desconfia e se aproxima. Ela abre o vidro. Explica, num espanto exagerado, ai, achou que poderia passar reto. É que tá com pressa, sabe? Mas tá tudo certo com o carro. Tudinho. Posso passar reto? Recebe a ordem calma para ficar onde está. Ele pede documentos. Ela faz que não ouve, solta um grunhido, se olha no retrovisor, joga os cabelos, deixa ver nuca, orelha, brincos. Como? Sua voz é um sopro, chiado de chaleira pronta pra virar mate. Os lábios sorriem num ditongo semiaberto. Ele apenas repete, a habilitação, por favor.

Ela estica o dedo e baixa os óculos escuros à ponta do nariz. Sorri. Pisca o olho. Ele nem aí, concentrado no talão de multas. Ela leva a mão à blusa, ou miniblusa, abre o primeiro botão. Calor, né?, murmura. De olho nele. Que nem se move. A senhora precisa calibrar os pneus, avisa. Ela concorda, sem graça. O policial pergunta se já encontrou os documentos. Ela morde os lábios. Finge procurar na bolsa, no console, no porta-luvas. Diz que vai espiar o porta-malas. Abre a porta do carro lentamente, ó, vou descer. Estica o movimento de pernas ao máximo. Está de minissaia. Microssaia. O policial a encara. Diz, tudo bem, precisa conferir os equipamentos obrigatórios mesmo. Ela respira fundo. Está ficando furiosa. Abre o porta-malas exatamente em frente ao policial, perna e cintura em ângulo reto. Agora ele não vai resistir. Nécas. O sujeito apenas anota e pergunta sem se abalar. Ela desiste, se recompõe e se aproxima. Meio palmo de distância. Ou menos. O perfume inunda o policial. Leva a mão à cintura, faz cara de desconsolada. Ai, seu guarda, não vai me multar, né? Os documentos, ele diz. Ela joga a cabeça pro lado, faz beicinho. Mia.

Ele dá de ombros. Infelizmente é multa. E guincho. Ela esperneia, berra, chora, sapateia. Chama o policial de tudo. Coloca em dúvida sua masculinidade. Alega amigos importantes, ele vai ver só. Acaba assinando ocorrência de desacato também. Minutos depois, um táxi a leva. Com sua minissaia. Ou microssaia. E miniblusa.

O policial fica ali. Imóvel. Olha o asfalto, os cones, os carros. E, finalmente, o relógio. Falta pouco. Ainda bem. Que se vier outra assim, sei não, ele suspira. Sei não.