Uma boa desculpa sempre faz falta quando a gente precisa, ele pensou, ligando para o trabalho do orelhão na saída do motel.
- Aloãn.
- Chefe, desculpe não ter ido trabalhar. Morreu minha mãe.
- De novo?
- Agora é de verdade.
- Rá! Então, das outras cinco vezes, era mentira?
- Não exatamente.
- Não exatamente? Quantas mães você tem?
- Com a que se foi, agora, restam três.
- Três? E alguém pode ter tanta mãe assim, meu Deus?
- Eu.
- Você é muito cara-de-pau. Tá despedido!
- Mas chefe. É sério. Sou fruto de uma experiência revolucionária. Filhos cooperativados.
- Hein?
- Algo a ver com sustentabilidade, anseios da classe média, neoliberalismo popular socialista, não sei bem. Mas era um grupo de mães a fim de ter bebê e um grupo de pais sem disposição de encarar a despesa. Deu nisso.
- Mas que barbaridade!
- Acredite. Princípio da vaquinha, chefe. É como o carro da empresa. Uso compartilhado, despesas coletivas e por aí vai.
- E?
- Acho até que preciso uns dias de dispensa. Não que eu faça questão, mas sabe como é. Velório, despesas de enterro, arranjar as coisas com a família, etc.
- Tá. Te dou três meses.
- Uau! Chefe, o senhor é fantástico.
- Eu, não. O governo. Passa lá no setor de pessoal. A partir de amanhã, tua renda também será uma espécie de cooperativa pública. Vou te pagar, mas do meu imposto.
- Como assim?
- Seguro-desemprego.
Clic.