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Verão

Especial

Quem salvará nossas crianças?

Em 1939, o britânico Nicholas George Winton iniciou aquele que seria um dos maiores gestos humanitários da história. Ele organizou o resgate que salvou 699 crianças de serem deportadas da antiga Tchecoslováquia para campos de concentração nazistas. O destino que as aguardava era macabro. Ele não se conteve e arregaçou as mangas. Foram oito viagens de trem, sendo que a última, infelizmente, com duas centenas e meia de crianças, não conseguiu chegar ao seu destino e nada mais se soube sobre esses pequenos. Mas a esmagadora maioria estava salva. Ele já tinha 79 anos de idade quando o mundo tomou conhecimento do que ele fez, pois sua esposa só encontrou os arquivos sobre o caso no sótão de sua casa cinco décadas depois. E um programa de TV londrino preparou uma grande surpresa, que emocionou o planeta, ao convidá-lo para entrevista e, de repente, revelar que os presentes no auditório ao seu redor eram as crianças que salvara. Quando perguntaram a Winton o porquê fez aquilo, ele apenas respondeu que acreditava estar fazendo o que era certo.

Nesta semana, dois casos horrendos abalaram a opinião pública. Provocaram náusea e pavor ao sabermos os níveis de frieza que alguns seres humanos conseguem atingir. E por questões de pura ganância ou egoísmo exacerbado. O primeiro caso, uma rede que negociava bebês por altos valores, burlando o sistema legal de adoções. As prisões ocorridas em Pinhal e Novo Hamburgo, cujos tentáculos iam até a fronteira, revelaram aos policiais um contrabando de seres humanos tratados como uma mercadoria qualquer. Não eram vidas, para eles. Não era seres humanos. Nada além de valores monetários, do lucro fácil e sem escrúpulos que simplesmente decide alterar o rumo de uma vida como se fosse nada. E os criminosos ainda tentando se proteger com um discurso quase social, de “dar uma chance” aos pequenos, já que as mães não teriam condições de cuidar. Toda maldade é assim, hipócrita.

O outro fato chocante envolvendo crianças aconteceu em Janaúba, Minas Gerais. Um vigia de 50 anos chamou os alunos, todos de apenas quatro aninhos de idade, e prometeu lhes dar picolé. Era a festa de dia das crianças antecipada do educandário. Em seguida ele ateou fogo nos pequenos, numa professora e em si mesmo. Agora, depoimentos dão conta de que ele já havia apresentado problemas psicológicos após a morte do pai. Mas quem deu importância? Quem tinha a responsabilidade de avaliar o risco que ele colocava, tanto a si mesmo com aos com quem convivia? Muitos perceberam, muitos souberam, todos deram de ombros. Eis nossa dinâmica no mundo tecnológico, febril, veloz e raivoso: cada um por si. E seja do jeito que for, não se tem tempo para ser mais humano. Para pensar sequer em crianças. Pessoas como George Winton estão cada vez mais perto de se tornarem ficção.