person Entrar

Capa

Notíciasarrow_rightarrow_drop_down

Esportesarrow_rightarrow_drop_down

Arte & Agendaarrow_rightarrow_drop_down

Blogsarrow_rightarrow_drop_down

Jornal com Tecnologia

Viva Bemarrow_rightarrow_drop_down

Verão

Especial

Holmes ainda investiga como Watson largou em 22º e venceu o GP de Long Beach de 83

Pneus que destruíram classificação ressurgiram na corrida e esperteza do britânico valeu vitória na McLaren

Britânico se consagrou na última vitória da carreira | Foto: CP Memória

Sherlock Holmes ainda está investigando como Watson conseguiu! Não, meus caros elementares, não estamos falando de um crime, ou façanha policial. O assunto aqui é John Watson, o piloto britânico que, no GP de Long Beach de 1983 se tornou o vencedor da pior posição de um grid na história da Fórmula 1. Ele largou da 22ª colocação e numa maratona de ultrapassagens e consistência, venceu com mais de 27s de vantagem para o companheiro, Niki Lauda, que tinha largado em 23º!

Mas a McLaren teve problema nos treinos para largar atrás? Safety car estratégico na corrida? Chuva? Nada disso, foi uma prova normal e os treinos transcorreram sem quebras. Watson e Lauda ficaram mesmo a quase quatro segundos da pole-position de Patrick Tambay com a Ferrari. Dois culpados por uma classificação tão ruim: o já defasado Ford-Cosworth aspirado contra os turbo e os pneus.

A McLaren tinha contrato com a francesa Michelin, que priorizava os compostos mais duros para o poderoso motor Renault da equipe de fábrica compatriota. Com 100 cavalos a menos, o Cosworth não gerava energia suficiente nos pneus traseiros e o carro simplesmente deslizava pelas diferentes e pouco aderentes camadas do piso de Long Beach. A Goodyear, por sua vez, ainda oferecia pneus chiclete para seus parceiros demolirem na classificação.

Na corrida, contudo, a McLaren de tanques cheios tinha o seu "pneu infinito". Enquanto todo mundo de Goodyear teve de se socorres com um, dois, três pit-stops, as McLaren seguiam e seguiam, sem uma perda de performance mais nítida.

Mas muito antes da galera começar a parar, Watson e Lauda já estavam costurando pelotão. "No warm-up, quando enchemos o tanque, de repente os pneus traseiros aqueceram e eu tinha confiança total no carro. Eu podia fazer qualquer coisa que aquela McLaren respondia. Sabia que algo especial podia acontecer", narrou Watson à Motorsport.com, anos depois.

E assim, foi, só que com Lauda largando melhor e pulando à frente de Watson. O austríaco puxou o companheiro na fila e foram passando muita gente, até estabilizarem ali pelo oitavo lugar. Pontos pareciam realidade e logo estavam no top seis. Keke Rosberg, que já tinha dado um cavalo de pau, quase batendo em Tambay na briga pela ponta, finalmente abalroou o francês, tirando ambos da disputa.

O pelotão começou suas trocas de pneus e logo Lauda era quarto, com Watson em quinto. Lá na frente, Riccardo Patrese usava seus pneus Michelin para atacar a outra Williams de Jacques Laffite. O italiano errou e saiu da pista, deixando a McLaren no pódio.

Watson, então, percebeu que Lauda começava a ter mais desgaste de pneus que ele. Um segredinho, o britânico tinha à revelia do diretor técnico John Barnard, escolhido compostos mais duros. "Eu me dava muito bem com o pneu 05 da Michelin, Niki preferia o 04, mais aderente e a equipe definiu que seria aquele. Mas eu combinei com os mecânicos e fomos de 05", confidenciou. Com mais borracha, Watson botou de lado e foi embora, sem qualquer chance para Lauda reagir. Depois disso, passou Laffite e se mandou.

Lauda também passou, mas nunca chegou nem perto de Watson. René Arnoux poderia ter ameaçado com a Ferrari, mas ele vinha se recuperando quase de uma volta atrás, após um furo no pneu. Foi assim, então, que uma dobradinha forense da McLaren aconteceu na mais improvável situação. A quinta e última vitória de John Watson na Fórmula 1 foi uma obra-prima digna de Arthur Conan Doyle.

Bernardo Bercht