Dá para imaginar as engrenagens operando na cabeça do maior campeão sobre duas rodas naquelas voltas fatídicas em Misano. No molhado, estava melhor que Lorenzo, mas a pista secava a cada segundo e o rival teria toda a vantagem a partir disso, pois sempre foi mais rápido nas condições. A estratégia óbvia era ir cedo para os boxes trocar para a moto de pneus secos, como fez Marc Marquez para ganhar a corrida eventualmente, mas aí veio o brilhantismo.
Embutido no vácuo de Rossi, Lorenzo estava esperando a cartada do italiano para definir sua tática. Queria jogar nas mesmas condições, ir para cima quando trocassem pneus e azar do resto do grid. O Doutor, por sua vez, aproveitou o "sanguenozoio" do rival da única forma que podia. Parasse imediatamente, seria presa fácil e perderia mais pontos no campeonato com o terceiro lugar atrás de Lorenzo.
Então foi esticando a parada. Perdendo mais de seis segundos por volta para Marquez, mas cuidando no retrovisor o cada vez mais transtornado Lorenzo, sem saber se passava, presionava, parava... Foram três voltas até o rival capitular. Agora preocupado também com a fuga de Marques, Lorenzo voltou dos pits mordendo o guidão com pneus frios. Tentando ser mais rápido que a pista permitia, descolou os platinados e desabou no chão sem aderência na traseira.
Foi a exata volta da parada de Rossi, que trocou de moto calmamente, voltou à pista com uma perda de tempo considerável, mas confirmou o quinto lugar. Foram onze pontos a mais no campeonato numa corrida que estava perdida se corresse de igual para igual com Lorenzo. Uma aula de jogo psicológico.