Sebastião Melo (MDB) foi eleito prefeito de Porto Alegre. Sonho acalentado há anos pelo goiano, radicado por aqui desde 1978. “Esta cidade me fez vereador três vezes, vice-prefeito, deputado e hoje prefeito eleito. Obrigado Porto Alegre, eu vou devolver a ti em dobro tudo que me deu, sendo um prefeito realizador”, disse o emedebista na primeira manifestação após ser declarado vencedor. Melo foi um dos vice-prefeitos mais ativos que a Capital já viu e conhece a cidade como poucos. Agora, também terá o poder da caneta e das decisões em suas mãos. E os problemas não são poucos. Além das dificuldades tradicionais enfrentadas pelos gestores municipais, Melo terá pela frente, assim como os demais eleitos e reeleitos, um cenário ainda em meio à pandemia, contrariando as perspectivas de até bem pouco tempo, de que o pior havia passado. Consciente da situação, o emedebista afirmou que o carro chefe será o equilíbrio econômico e fiscal, mas com olhar cuidadoso para o social. “A política é a forma mais elevada para se fazer o bem comum. Além disso, a questão da Covid-19 será um tema central da transição porque tenho para nós que a economia e a saúde devem caminhar juntas. A cidade não aguenta mais este abre e fecha”, disse. O emedebista terá de lidar ainda com uma Câmara Municipal com representação de 18 partidos e com bancadas de oposição matematicamente fortes e aguerridas. Das três maiores bancadas da Casa, duas são da oposição: PSol e PT, com quatro vereadores cada, além do PSDB, que também obteve o mesmo número de cadeiras. Melo é um homem de diálogo, que ao longo da campanha acabou assumindo bandeiras de seu vice, Ricardo Gomes (Dem), um liberal convicto. Alinhou-se ainda ao governo federal. A intenção era clara. Consolidar-se como a antítese de sua adversária, Manuela D’Ávila, a “comunista”. A campanha foi disputada e Melo contou com a ajuda do destino em episódio que foi decisivo para a virada de sua candidatura ainda no primeiro turno da eleição: a saída de José Fortunati (PTB) da disputa. A migração de votos não foi total, tampouco automática, mas suficiente para o emedebista assumir a liderança, frustrando a coligação de Manuela, que figurava como preferida. A margem da vantagem oscilou ao longo do segundo turno, gerando temor na equipe de Melo mais de uma vez. Mas se manteve e foi confirmada pelo resultado inquestionável das urnas.
Vice nada decorativo
Além da trajetória política e do perfil combativo, a atuação de Ricardo Gomes (Dem) durante a campanha eleitoral em Porto Alegre carimba de vez a entrada de um vice forte e atuante no Paço Municipal. Além disso, a simbiose com Melo também rechaça qualquer oportunidade de termos um “vice decorativo”, como se autointitulou o ex-presidente Michel Temer (MDB) antes do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Mais: Ricardo Gomes deve acumular a função de secretário de Desenvolvimento Econômico. Em tempo: a harmonia entre prefeito e vice também pode ser considerada como um fator determinante para o sucesso da futura gestão.
Taline Oppitz