O GP de Long Beach começou, lá em 1975, como uma maluquice típica dos exageros daquela década. Alguém decidiu testar o que aconteceria juntando mais de 40 carros de alta performance num circuito improvisado entre muretas de concretos “e uns cinco tipos diferentes de piso, entre asfalto e concreto”, como definiu o consagrado piloto Mario Andretti. O impressionante é que deu certo, no ano seguinte a prova seria um GP de Fórmula 1 oficial e até hoje é consagrada a prova de rua mais tradicional dos Estados Unidos. Neste domingo, será o palco da decisão do título da Fórmula Indy na temporada.
De lá para cá, o piso foi refeito e tem muito melhor qualidade, apesar das ondulações, mas o carisma e o espírito de improvisação dos anos iniciais ainda marcam a atmosfera da corrida californiana. A “Praia Grande” tem uma dinastia Andretti, com Michael e Mario, pai e filho, somando sete vitórias no desafiador traçado. Mario, por sinal, foi o único a ganhar com Fórmula 1 e Fórmula Indy.
Tem também um rei, Al Unser Jr. O mais novo da famosa família campeã é o maior vencedor por lá, com seis troféus Astor, a taça para quem sobe ao degrau mais alto do pódio. E os brasileiros deixaram suas marcas eventuais. Foi neste circuito que Emerson Fittipaldi conseguiu o primeiro ponto e um pódio improvável, o último da sua equipe, a Copersucar. Nelson Piquet venceu pela primeira vez na edição de 1981 e Hélio Castroneves, que correrá a prova de 2021 aos 46 anos, também entrou para o rol de vencedores com a Penske, na Indy, em 2001.
É neste cenário cheio de história que dois novos talentos da Fórmula Indy decidirão o título da temporada. Nenhum deles estaria entre os mais cotados na primeira prova do ano: o espanhol Alex Palou, de 24 anos, e o mexicano Pato O'Ward, de 22. Dois “hablantes” de espanhol serão os protagonistas do gran finale norte-americano. O “dono da casa”, Josef Newgarden, ainda tem chances matemáticas, mas muito remotas para ser realmente cogitado para um eventual bicampeonato com sua Penske.
Palou chegou à categoria em 2020, importado da Super Formula Japonesa pela pequena equipe Dale Coyne e, de certa forma, desacreditado após uma carreira mediana nas categorias de formação. Assinou com a poderosa Chip Ganassi e engrenou uma temporada impecável, com vitórias dominantes e um segundo lugar nas 500 Milhas de Indianápolis.
O'Ward, por sua vez, era um dos prodígios da Red Bull, com sucesso na base, e que resolveu arriscar trocar de time, apostando no novo projeto da McLaren. Dá para dizer que deu certo, pois, de largada, ele já tem uma chance de faturar o caneco na categoria norte-americana.
Na matemática, as chances maiores são de Palou, que precisa apenas chegar em 11º ou melhor para garantir o título. Pato vai precisar vencer e contar com um provável abandono do rival, mas toda corrida tem sua história e, principalmente em Long Beach, tudo pode acontecer com os muros ali pertinho da pista e o calor desgastante exigindo muito dos carros.
Bernardo Bercht, de Long Beach (EUA)