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Verão

Especial

Primeira pandemia na era das redes sociais gera pânico desnecessário

Para os especialistas, a melhor maneira de evitar a disseminação do pânico é verificar as informações e não compartilhar as que não forem confirmadas

Prateleiras de papel higiênico, macarrão, óleo, comidas enlatadas e água sanitária ficaram vazias | Foto: François WALSCHAERTS / AFP / CP

Em São Paulo, as máscaras sumiram das farmácias antes mesmo de qualquer caso de coronavírus ser confirmado no país. Um vídeo de duas mulheres brigando por papel higiênico na Austrália viralizou. A rede de TV britânica BBC noticiou que os gastos com supermercado subiram 40% em uma cidade da Nova Zelândia após a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no país. No Reino Unido, as pessoas fizeram bunkers de sobrevivência e as prateleiras de papel higiênico, macarrão, óleo, comidas enlatadas e água sanitária ficaram vazias.

Especialistas afirmam que vivemos, além da situação com o coronavírus, uma pandemia de pânico. Apesar da sociedade já ter passado por outras, esta é a primeira pandemia que acontece em um mundo hiperconectado e com desinformação.

Em 2009, quando aconteceu a pandemia de H1N1, os smartphones já existiam, mas o celular não tinha a importância que tem hoje e era usado, principalmente, para ligações e mensagens de texto. O estudo Google Consumer Barometer, divulgado em 2017, mostra que em 2012 apenas 14% da população possuía smartphones. Em 2016, este número passou para 62%.

Já no Brasil, atingimos a taxa de um smartphone por habitante em 2017, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas). Isso não significa que todos os brasileiros possuem um smartphone, uma vez que muitas pessoas possuem mais de um celular.

“O problema da globalização é que nesse momento temos as notícias em tempo real, sendo atualizadas a cada momento. Isto contribui para disseminação de uma pandemia de pânico”, afirma o psiquiatra Marcel Vella Nunes, do Hospital Santa Mônica, em São Paulo.

O psiquiatra Saulo Piasca, professor na Universidade Nove de Julho, afirma que o excesso de informação, as informações incompletas e a preferência da imprensa por mensagens de maior impacto também contribuem para a geração de medo na sociedade. Segundo Nunes, a desinformação é um fator que aumenta o pânico coletivo. “O fenômeno depende de um sugestionamento e é exatamente isso que as fake news proporcionam.”

Além disso, ele destaca que as pessoas que já possui a saúde psicológica fragilizada têm mais chance de desenvolver quadros de pânico coletivo. “Quem já possui TOC [transtorno obsessivo-compulsivo] envolvendo contaminação ou limpeza, ou mesmo ansiedade, pode se prejudicar muito. Esse pânico é muito maléfico para o coletivo”, afirma Piasca. “A pessoa pode se isolar e até desenvolver ou agravar delírios.”

Segundo Nunes, o Brasil possui um dos maiores índices de ansiedade do mundo. “A pessoa ansiosa amplifica os sintomas. Uma dor de cabeça é um tumor, tem uma tosse e já acha que está com câncer.”

Para Piasca, a população tem trabalhado cada vez mais e interagido fisicamente entre si cada vez menos, o que favorece respostas com mais ansiedade, medo e irracionalidade. “Quando a conexão acontece, ela é virtual. Isso gera uma expectativa interna. As facilidades da vida moderna também dificultam que lidemos com as frustrações.”

Para os especialistas, a melhor maneira de evitar a disseminação do pânico é sempre verificar as informações e não compartilhar as que não forem confirmadas. “Confiar nas informações dos órgãos oficiais como o ministério e a OMS [Organização Mundial da Saúde]. Se eu fizer uma investigação, eu evito a propagação e me acalmo também”, afirma Nunes.

Além disso, Piasca indica que, caso o medo esteja atrapalhando as atividades do dia a dia, a pessoa deve considerar procurar ajuda profissional. “É importante construir uma rede de apoio, não se isolar, conversar sobre isso.”

O psiquiatra lembra que o pânico pode gerar problemas além da própria doença. “Se temos mercados desabastecidos e hospitais lotados pois as pessoas vão ao médico sem necessidade, temos um problema causado pelo pânico e não pelo vírus.”

Pânico Coletivo

O termo histeria coletiva já não é utilizado por ser pejorativo para as mulheres. A palavra vem de hystéra, que do grego, significa útero. “Se acreditava que só mulheres tinham isso, mas hoje sabemos que é um fenômeno psiquiátrico”, afirma Nunes.

O nome mais adequado, apesar de não ser oficial, é pânico coletivo. “É quando um grupo de indivíduos mimetizam uma doença de maneira coletiva e de maneira inconsciente. Quando vivem algum dilema ou situação estressante, começam a apresentar sintomas que podem ser de dor, neurológicos, psíquicos, físicos, entre outros”, destaca Nunes.

O médico cita um caso no norte do país, em que diversas pessoas começaram a apresentar convulsões após tomar a vacina do HPV. “A pessoa recebe a informação incorreta de que pode ficar doente com a vacina e é sugestionada a isso.” Ele explica que para que seja considerado um quadro psiquiátrico coletivo é necessário que as pessoas apresentem sintomas. “Nos casos que estamos vendo, são sintomas de ansiedade.”

Segundo ele, muitas vezes a pessoa não está tão ansiosa com as notícias diretamente, mas ao observar os outros tomarem atitudes drásticas, começa a agir da mesma maneira. É o efeito manada.

Além disso, os sintomas têm relação com o meio cultural que a pessoa vive e com o modelo de aprendizagem. “Se é em um país que já viveu uma situação de guerra, inconscientemente, as pessoas acreditam que é estocar suprimentos é a melhor maneira de lidar com essa situação.”

R7