Viajar nos ônibus de Porto Alegre nestes dias de calor extremo tem sido um desafio para muitos passageiros diariamente, já que uma parte significativa da frota da cidade está com o ar-condicionado desligado. Ainda que a Secretaria de Mobilidade Urbana e a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) tenham intensificado a fiscalização nos coletivos, 172 ônibus estão com o equipamento desligado, dos 690 que o tem, somando pouco menos de 25% da frota. Os dados foram atualizados no final da tarde da última terça-feira.
Levando em consideração que há tardes com marcas próximas dos 40 graus, a situação causa preocupação. O secretário Municipal de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior, afirma que ainda há um pouco de dificuldade de manutenção, dependendo do tipo de veículo em circulação. “Tudo isto, evidentemente, envolve a busca de algum outro item. Queremos, até o final de janeiro, estar com praticamente toda a frota com ar-condicionado e operando perfeitamente na cidade de Porto Alegre”, comenta ele.
Ainda conforme ele, o usuário que verificar o equipamento desligado em um coletivo deve relatar á Prefeitura. A doméstica Patrícia Cardoso, moradora do bairro Hípica, utiliza quatro ônibus por dia do deslocamento entre sua casa e o trabalho, e opina que o ar-condicionado deveria estar ligado. “Não conseguimos enfrentar este calor horrível. Outro problema é que as pessoas nem conseguem se movimentar direito. A Prefeitura também deveria aumentar o número de linhas, principalmente no horário de pico. Andamos pior do que sardinha em lata”, reclama ela.
Já o auxiliar de serviços gerais Jandir Manteufel, que mora no Jardim Carvalho, disse que não circula com o transporte coletivo diariamente, mas sente os efeitos da falta do ar-condicionado nos ônibus da Capital. “Pelo valor que pagamos a passagem, deveriam ter mais linhas com ele ligado. Não existe desculpa para isto”, comenta. O supervisor de transporte Vanderlei Lima, morador do Rubem Berta, afirma conhecer a experiência de outras capitais brasileiras, como Curitiba e Florianópolis, onde, segundo ele, o sistema funciona.
“Os ônibus, em geral, deveriam ter melhores condições de circulação. Com certeza o ar-condicionado ligado melhora o bem-estar das pessoas, que muitas vezes estão cansadas depois de um dia de trabalho”, disse. Hoje, Porto Alegre conta com uma frota de 1.337 ônibus, e a Prefeitura argumenta que o custo mensal para manter o sistema operando nos veículos é de R$ 826 mil. Os equipamentos estavam fora de operação desde março de 2020, em razão da pandemia e da recomendação sanitária de manter os vidros abertos.
A volta da climatização foi em 18 de dezembro de 2022, e o secretário Adão informou que a ligação seria gradativa. No entanto, conforme a Prefeitura, em razão do tempo inoperante, alguns têm apresentado falhas, e a falta de peças no mercado também tem dificultado a reposição dos equipamentos. O engenheiro de transporte da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), Antônio Augusto Lovatto, afirma que as falhas eram “previsíveis”, e que a EPTC montou um relatório entre o final do ano passado e início de 2023, mostrando que 18% dos ônibus do sistema privado tinham falhas no sistema.
“Qualquer um sabe que o equipamento de ar-condicionado, passando três anos parado, por mais que sejam feitas todas as manutenções, e as empresas o fizeram, seriam passíveis de falha. É natural que você coloque um equipamento destes para funcionar e daqui a dez dias dê um problema. As manutenções estão sendo feitas à medida que vão sendo descobertas. E estamos fazendo todo o possível para corrigir”, comenta Lovatto.
Felipe Faleiro