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Verão

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Dólar tem maior alta diária desde junho e vai a R$ 5,37

Ibovespa acompanhou a acentuação das perdas em Nova Iorque e fechou o dia em queda de 1,81%, aos 98.289,71 pontos

O real foi novamente a moeda com pior desempenho ante o dólar | Foto: Marcos Santos / USP Imagens / Divulgação / CP

A fuga de ativos de risco no exterior e fatores técnicos no Brasil - incluindo a antecipação de um leilão de rolagem do Banco Central e a disparada dos juros longos - provocaram forte piora do câmbio nesta sexta-feira, com o dólar chegando a bater em R$ 5,37, na maior alta diária desde 24 de junho. Em dia de baixa liquidez e com agenda esvaziada de eventos e indicadores, o dólar operou com valorização durante toda a sessão, revertendo a queda acumulada na semana.

Novos indícios de piora da relação entre Estados Unidos e Pequim, aumento de casos de coronavírus na Europa e ainda preocupações com a retomada da atividade econômica americana ajudaram a pressionar as bolsas e as moedas de emergentes.

O real foi novamente a moeda com pior desempenho ante o dólar, considerando uma cesta de 34 divisas mais líquidas. Traders relatam que as crescentes preocupações fiscais com o Brasil ajudam a enfraquecer mais a moeda brasileira na comparação com seus pares. Enquanto o dólar subiu 2,79% no mercado doméstico, para R$ 5,3776, avançou 1,1% no México, 0,81% na África do Sul e 0,88% no Chile.

Nesta sexta, o temor fiscal fez a curva de juros a termo se inclinar ainda mais, com as taxas longas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) abrindo mais de 30 pontos, o que ajudou a estressar ainda mais o dólar, ressalta o diretor de tesouraria de um banco. "A inclinação da curva é um sinal do crescente risco fiscal do Brasil, aliado ao exterior ruim, ajudou a fortalecer o movimento de busca por proteção no dólar."

Profissionais das mesas de câmbio mencionam ainda que a decisão do BC de fazer nesta sexta um leilão de rolagem de linha que vencem em outubro, de US$ 4,15 bilhões, não caiu bem em um dia de mercado estressado. Normalmente estes leilões de rolagem de linha são feitos na semana final de cada mês. O leilão desta sexta acabou atraindo tomador novo, que estava atrás de liquidez, e deixou parte de quem queria rolar os papéis que vencem em outubro na mão, conta um executivo de banco médio.

"Está faltando liquidez no mercado e o leilão acaba atraindo gente que não está na rolagem", destaca o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem.

Ele ressalta que o dia a liquidez baixa, por conta do feriado judaico, e a busca por proteção antes do final de semana ajudaram a pressionar o câmbio. No noticiário, ele destaca o aumento de casos de coronavírus no exterior e a decisão de Donald Trump de barrar downloads de dois aplicativos chineses - TikTok e WeChat - a partir do próximo domingo, o que pode azedar ainda mais a relação entre os dois países.

Bovespa

Agora no menor nível de encerramento desde 7 de julho (97.761,04), o Ibovespa acompanhou à tarde a acentuação das perdas em Nova Iorque e fechou o dia em queda de 1,81%, aos 98.289,71 pontos, devolvendo os ganhos da semana (-0,07%) e acumulando perdas pela terceira consecutiva, após as baixas de 2,84% e de 0,88% nas duas anteriores. No mês, o índice retorna a terreno negativo, em retração de 1,09%, elevando as perdas a 15,01% no ano. O giro financeiro totalizou R$ 27,8 bilhões na sessão, marcada também por forte avanço do dólar à vista (+2,79%, a R$ 5,3776 no fechamento) e inclinação da curva de juros, com a aversão a risco.

No exterior, a semana chega ao fim em tom de decepção, com a falta de novas iniciativas na política monetária das maiores economias, especialmente nos EUA, e os sinais de retomada da Covid-19, particularmente neste verão europeu, o que contribui para mitigar o entusiasmo quanto aos sinais de recuperação da atividade no Hemisfério Norte. As perdas acumuladas na Europa e nos EUA, contudo, foram moderadas na semana, chegando a 1,49% no FTSE MIB, de Milão, e a 0,64% no S&P 500, de Nova Iorque.

"O viés é negativo: o Ibovespa parece mais perto de se direcionar aos 96 mil pontos no curto prazo do que de voltar a testar os 103 mil, uma região de 'ursos' defendendo posição. Ainda temos uma correção normal, como no exterior, com a diferença de que lá fora andou bem mais. Aqui as incertezas fiscais e políticas continuam pesando, assim como a falta de reação das ações de bancos", aponta Márcio Gomes, analista da Necton.

Nesta sexta-feira, as perdas se disseminaram por empresas e setores, e mesmo Vale ON, que resistia mais cedo em alta, acabou cedendo, em baixa de 0,68%, na mínima do dia no fechamento. A escalada do dólar na sessão contribuiu para colocar a exportadora Suzano (+2,10%) na face positiva do Ibovespa, acompanhada apenas por Raia Drogasil (+1,29%) e Magazine Luiza (+0,07%).

No lado oposto, Cielo puxou a fila, em baixa de 6,58%, seguida por Lojas Renner (-4,97%), BTG (também -4,97%) e IRB (-4,91%). Entre as blue chips, perdas acima de 2% para Petrobras (PN -2,26% e ON -2,23%) e de até 2,57% para bancos (Santander).

Apesar do dia negativo, e de o Ibovespa vir testando com frequência maior o território abaixo dos 100 mil, o mercado ampliou o otimismo sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira.

Num total de 14 respostas, 64,29% disseram que a expectativa é de ganhos para o Ibovespa na próxima semana, enquanto apenas 7,14% acreditam em baixa. Os que esperam estabilidade para a Bolsa no período entre os dias 21 e 25 de setembro são 28,57%. No levantamento da semana passada, 57,14% esperavam que a presente semana seria de alta para o índice; 35,71%, de queda, e 7,14% previam variação neutra.

Na sessão desta sexta, o índice tocou máxima a 100.101,91 pontos, saindo de 100.097,73 pontos na abertura e chegando, na mínima, aos 98.044,81. Nas últimas sete sessões, desde o dia 10, fechou abaixo dos 100 mil em quatro ocasiões.

Desde a terça-feira, o Ibovespa alternou perdas e ganhos, ora acima, ora abaixo dos seis dígitos - o último pregão em que conseguiu se sustentar acima dos 100 mil ao longo de toda a sessão foi em 9 de setembro, após a correção iniciada pouco antes do feriado do dia 7 nos EUA (Trabalho) e no Brasil (Independência), quando NY vinha de máximas renovadas e passou a realizar lucros, especialmente a partir do setor de tecnologia.

Juros

A semana terminou com o mercado de juros sob forte estresse, a curva empinando e taxas longas em alta de quase 30 pontos-base no encerramento da sessão regular. A sexta-feira não teve destaques nem na agenda nem no noticiário local que justificassem uma trajetória tão ruim, que já era de alta pela manhã mas piorou à tarde, dada a proximidade do fim de semana, quando os juros longos e intermediários bateram máximas acima de 30 pontos. O cenário externo negativo tampouco ajudou.

Na falta de "inputs" para conduzir os negócios, o mercado se voltou aos fundamentos da economia brasileira, principalmente à fragilidade fiscal, para zerar posições vendidas em vários vértices.

A adição de prêmios pelo risco fiscal ampliou a precificação de aumento para a Selic no Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro para 40%, com a curva embutindo 10, 13 e 24 pontos-base de alta na taxa básica, respectivamente nas reuniões de outubro, dezembro e janeiro. Os números são do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

O contrato de DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 2,97%, de 2,823% no ajuste anterior, e o DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 4,38%, de 4,144%. O DI para janeiro de 2025 terminou a 6,30%, de 6,024%, e o DI para janeiro de 2027 subiu de 7,013% para 7,28%.

Na quinta, a leitura do comunicado do Copom e a oferta menor de títulos no leilão do Tesouro conseguiram colocar a curva para baixo, mascarando um pouco as preocupações com o quadro interno, mas nesta sexta, na ausência de condutores para as taxas, a piora do risco fiscal voltou ao centro das atenções.

Um gestor afirma que o IGP na manhã desta sexta veio forte - o IGP-M na segunda prévia de setembro passou de 2,34% para 4,57% -, mas com desaceleração do IPC (0,41% para 0,38%). "Não tem nada específico que justifique tamanho movimento da curva hoje", disse, lembrando, porém, que o mercado tem posição técnica ruim após tantos leilões com megaofertas do Tesouro.

Na avaliação da economista-chefe do Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro, a instituição não conseguirá manter por muito tempo o atual ritmo de emissão de papéis prefixados. "Estamos ganhando tempo. Dado o padrão de vencimentos da dívida, temos anda financiamento barato por uns 2 anos. Dá para levar mais um pouco e torcer para não termos choques externos", afirmou, durante live organizada pela Genial Investimentos.

Para os profissionais, é crescente o risco para o cumprimento do teto de gastos a partir do ano que vem, com o governo dando sinais claros sobre a vontade de gastar.

Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, atribui o "steepening" da curva à "absoluta incerteza fiscal". "É bem verdade que o teto está, por enquanto, mantido, mas a necessidade de um anteparo de defesa contra medidas heterodoxas (leia-se Rodrigo Maia, o presidente da Câmara) aumenta a cada dia", afirmou.

AE