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Especial

No pós-Copom, dólar sobe 1,26% com risco fiscal no radar

Moeda norte-americana encerrou cotado a R$ 5,62

Dólar à vista já abriu a sessão em alta e ultrapassou a marca de R$ 5,60 na primeira hora de negócios | Foto: AFP Files / CP

Renovadas preocupações com a política fiscal, após o malogro na votação da PEC dos Precatórios pela Câmara dos Deputados, e a leitura predominante de que o Comitê de Política Monetária (Copom) não foi na quarta-feira duro o suficiente, tanto no grau de aperto monetário (1,50 ponto porcentual, para 7,75%) quanto em seu comunicado, levaram investidores a manter uma postura defensiva no mercado de câmbio doméstico nesta quinta-feira.

Diante da incerteza sobre qual será, afinal, o desenho orçamentário para acomodar os precatórios e emplacar o Auxílio Brasil de R$ 400, avalia-se que a política monetária deve ser ainda mais restritiva para ancorar as expectativas de inflação e dar o mínimo de credibilidade à política econômica. Nem mesmo a divulgação de superávit de R$ 303 milhões do Governo Central em setembro, acima da mediana do Projeções Broadcast (déficit de R$ 4,250 bilhões), arrefeceu os temores de degringolada fiscal em meio ao abandono informal do teto de gastos. A fotografia das contas públicas pode ser boa, mas a história que o filme conta caminha para um final muito ruim, dizem analistas.

O dólar à vista já abriu a sessão em alta e ultrapassou a marca de R$ 5,60 na primeira hora de negócios. O pior momento veio no início da tarde, quando a moeda americana correu até a máxima de R$ 5,6358 (+1,45%), em meio a rumores de que, dadas dificuldades para a aprovação da PEC dos Precatórios, o governo estudaria a possibilidade de decretar estado de calamidade pública, abrindo espaço para despesas fora do teto de gastos e renovação do auxílio emergencial, por meio da aprovação de créditos extraordinários.

Logo em seguida, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-R), disse ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que não vai haver prorrogação do auxílio emergencial e nem decretação do estado de calamidade porque a PEC dos Precatórios será aprovada na próxima quarta-feira, 3, em sessão presencial da Câmara. Na mesma linha, o ministro da Cidadania, João Roma, afirmou que o governo está focado "na aprovação da PEC" e não "há plano B". Em entrevista para comentar o resultado das contas do Governo Central, o subsecretário de Planejamento Estratégico da Política Fiscal do ministério da Economia, David Rebelo Athayde, disse que "não tem possibilidade de a equipe econômica defender a ideia de que haja um novo decreto de calamidade pública".

Depois da debandada de parte da equipe econômica na semana passada, puxada pela saída do secretário de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, cresceram as dúvidas sobre a capacidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, de se contrapor ao desejo da ala política do Planalto por ampliação das despesas.

Após orbitar ao redor de R$ 5,60 na maior parte da tarde, o dólar voltou a acelerar na última hora de negócios, em conjunto com a virada do Ibovespa para o campo negativo, e encerrou cotado a R$ 5,6253, em alta de 1,26% - o pior desempenho entre as divisas emergentes, em dia de perdas também para o peso mexicano e o rand sul-africano, tidos como pares do real. A moeda americana caiu, contudo, em relação a outras divisas de países exportadores de commodities e na comparação com seus pares fortes. Com o avanço nesta quinta-feira, as perdas do dólar na semana foram praticamente apagadas (-0,04%). No acumulado do mês, a moeda americana avança 3,29%.

Para o head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, a tese de que uma taxa Selic maior daria sustentação ao real não se sustenta, uma vez que a curva de juros já embute bastante prêmio e, mesmo assim, o dólar segue em ascensão. "O problema é a percepção de risco elevada com essa incerteza sobre a política fiscal", diz.

Netto avalia que, mesmo com a aprovação da PEC dos Precatórios, permanecerá a desconfiança sobre a âncora fiscal do País, já que o Congresso teria chancelado uma "manobra" para contornar o teto de gastos. Se a PEC não vingar, é quase certo que o governo arrumará um jeito de bancar o Auxílio Brasil, do qual Bolsonaro disse não abrir mão. "Com esse populismo fiscal, não vejo no curto prazo como o dólar possa recuar para abaixo dos R$ 5,50. Deve ficar numa faixa entre R$ 5,50 e R$ 5,70 no curto prazo", afirma o head da Acqua-Vero, acrescentando que a volatilidade deve aumentar amanhã, dia da formação da última taxa Ptax de outubro.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, vê a alta do dólar hoje, a despeito da elevação da Selic, como uma reação ao aumento do risco fiscal extrateto, após o adiamento da votação da PEC dos Precatórios e os rumores de extensão do auxílio emergencial. "Além disso, o IGP-M de outubro veio acima das expectativas. É mais um número de inflação assustando o mercado", afirma Consorte, em referência a alta de 0,64% do IGP-M neste mês, acima do teto do Projeções Broadcast, de 0,61%.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em queda firme, na casa de 93,300, sobretudo por conta do fortalecimento do euro, na esteira de declarações mais duras da presidente do BCE, Christine Lagarde. Cresce a percepção de que os Bancos Centrais das economias desenvolvidas vão acelerar a normalização da política monetária, o que, é claro, respinga nas moedas emergentes.

O resultado abaixo do esperado da primeira leitura do PIB dos EUA no terceiro trimestre - crescimento de 2% ante projeção de 2,5% - ajudou a tirar um pouco de força do dólar ante divisas fortes, mas não alterou a expectativa para início da retirada de estímulos monetários pelo Federal Reserve a partir do mês que vem. O índice de preços de gastos com o consumo (PCE) subiu à taxa anualizada de 5,3% no terceiro trimestre, enquanto o núcleo (sem alimentos e energia) avançou 4,5%.

Juros

Os juros voltaram a subir, com exceção dos de curtíssimo prazo, que recuaram. Os ajustes ao Copom foram limitados às primeiras horas da sessão, com as preocupações do lado fiscal voltando a dominar os negócios a partir do fim da manhã. As alternativas que estariam sendo cogitadas pelo governo caso a PEC dos Precatórios emperre no Congresso trouxeram novo estresse às taxas, amplificando o efeito de inclinação da curva imposto pelo comunicado do Copom.

As taxas do miolo da curva chegaram a subir mais de 80 pontos-base e o contrato para janeiro de 2023, a entrar em leilão. O Tesouro não teve alternativa senão a de vir, mais uma vez, com um lote mínimo de prefixados no leilão. Tudo considerado, a precificação da curva mostra um mercado dividido sobre a Selic no Copom de dezembro, entre apostas de aumento de 1,75 ponto porcentual e 2 pontos, sendo que esta aparece com uma pequena vantagem.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caiu de 8,473% para 8,40% e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 11,529% para 12,40%, fechando perto da máximas de 12,405%. A do DI para janeiro de 2025 fechou em 12,51%, de 11,817% na quarta, e a do DI para janeiro de 2027, em 12,47%, de 11,905%.

O resultado do Copom desagradou uma parte do mercado, que defendia um aperto maior na Selic, de 1,75 ponto porcentual em vez do 1,5 ponto efetivamente aplicado. A expectativa de taxa a 7,75% era majoritária nos Departamentos Econômicos, mas não na curva do DI, que apontava chance maior de ir para 8,00%. Por isso, os contratos de curto prazo devolveram prêmios no começo do dia, ajustando-se também à sinalização de nova alta desta magnitude para o encontro de dezembro, dada pelos diretores.

Por outro lado, as taxas a partir do miolo avançaram. Ao trazer que "o cenário básico e o balanço de riscos indicam ser apropriado que o ciclo avance ainda mais no território contracionista", o comunicado sugere Selic terminal ainda maior do que o mercado prevê. Na curva, a precificação para a Selic no Copom de dezembro era de 190 pontos-base pouco depois das 15h30, segundo a Greenbay Investimentos, apostas que indicam 60% de probabilidade de aumento de 2 pontos porcentuais e 40% de chance de 1,75 ponto. Mas esse quadro não é reflexo somente dos ajustes ao novo plano de voo do Banco Central, mas também do aumento dos ruídos fiscais e fatores técnicos envolvendo zeragem de posições.

No meio do dia a curva piorou muito, com líderes aliados acenando com a possibilidade de nova decretação de calamidade caso a PEC dos Precatórios fique travada no Congresso. "A questão é que não se consegue fechar a equação fiscal para atender à demanda política. Todo dia tem novidade", comentou Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset.

Bolsa

Em meio ao impasse sobre a votação da PEC dos Precatórios, com o governo parecendo encontrar dificuldade para reunir quórum para uma aprovação segura, o Ibovespa voltou a mostrar nervosismo nesta quinta-feira quanto à evolução do fiscal em 2022, no dia seguinte à elevação da Selic a 7,75% ao ano, com sinalização do Copom para outro aumento de 1,5 ponto porcentual em dezembro - indicação que não convenceu o mercado, que aposta em ajuste maior tanto em dezembro como em fevereiro.

Os dados sobre as contas públicas divulgados no início da tarde, com superávit primário em setembro, chegaram a contribuir para que o índice de referência da B3 oscilasse levemente para o positivo, mas o pessimismo voltou a se impor depois do meio da tarde, com pressão sobre o câmbio e a curva de juros.

Assim, o Ibovespa seguiu pelo terceiro dia no negativo nesta quinta-feira, ao fechar em baixa de 0,62%, aos 105.704,96 pontos, menor nível de encerramento desde 13 de novembro de 2020 (104.723,00). Na semana, cai 0,56%, cedendo 4,75% no mês e 11,19% no ano.

Moderado, o giro financeiro ficou em R$ 29,4 bilhões nesta véspera de fim de outubro, em que o Ibovespa parece irremediavelmente a caminho do quarta perda mensal seguida, algo não visto desde o intervalo entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014. Nesta quinta, oscilou entre mínima de 105.282,37 e máxima de 107.209,64, com abertura a 106.369,01 pontos.

"A curva de juros está indicando taxa de 12,40% para 2023. O BC continua atrás da curva e, sozinho, sem a âncora fiscal, não está conseguindo segurar a ponta longa. Os preços dos ativos estão cada vez mais baixos, mas o ruim sempre pode ficar pior", diz Ricardo Campos, CEO da Reach Capital. "O governo não está mostrando comando da base no Congresso, uma dificuldade que sempre teve. E se fala até em MP para estender auxílio emergencial. Sem a âncora fiscal, é preciso ver até onde irá a vontade, o apetite por reeleição, e as emendas parlamentares", acrescenta.

Combinada à leitura de terça-feira sobre a arrecadação federal em setembro, no maior nível para o mês na série iniciada em 1995, o superávit primário no mesmo mês, ainda que conjuntamente à arrecadação não seja o suficiente para reverter temores sobre o fiscal, foi bem-vindo em dia no qual ressurgiram rumores quanto à prorrogação do auxílio emergencial na falta de apoio à PEC dos Precatórios, essencial à modelagem de financiamento ao Auxílio Brasil. Nesta quinta, mais uma vez a votação da PEC foi adiada na Câmara, agora para a próxima quarta-feira - "logo depois de feriado, quando se sabe como é difícil votar em semana com feriado", observa Campos, da Reach Capital.

Em outro desdobramento negativo para esta quinta-feira, destaque também para nova leitura preocupante sobre a inflação, divulgada pela manhã, com o IGP-M acima do teto das projeções para outubro.

Assim, com a falta de horizonte claro sobre o fiscal, e inflação pressionada, no dia seguinte à deliberação do Copom o mercado de juros futuros já precifica dose maior de correção da Selic, para as reuniões de dezembro e fevereiro - o que afeta diretamente o apetite por renda variável, deixando em segundo plano a temporada em geral favorável de balanços do terceiro trimestre no Brasil, vistos já como retrovisor de percurso longínquo, descolando assim a B3 da reação positiva vista em Nova York para as empresas americanas.

"A alta de 1,5 ponto porcentual (na Selic ontem) e o compromisso de mais um aumento não foi suficiente para o mercado. Mostrou um BC reativo ao cenário econômico - inflação alta e aumento do risco fiscal -, e não proativo para antecipar os problemas. Somente acompanhar o rumo certamente fará o Copom 'correr atrás da curva'", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.

"Diante da piora recente da inflação no Brasil e no mundo, e dos acontecimentos recentes no palco político - no caso, a proposta do governo de alteração da regra do teto de gastos, que aumentou a percepção de risco fiscal -, alguns analistas esperavam um recado mais forte em relação ao controle inflacionário e aos próximos passos do Copom", aponta Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico Investimentos.

"Em bom português: para os diretores do Banco Central, o risco fiscal que chamava atenção há bastante tempo, ainda não se concretizou de fato, mas as discussões sobre mudanças nas regras fiscais afetam a perspectiva de agentes na economia sobre onde os preços estarão no futuro - impactando o esforço do controle de preços", acrescenta Rachel.

À espera do balanço trimestral após o fechamento da quinta-feira, Petrobras (ON +0,96%, PN +0,94%) foi a exceção positiva entre as empresas de maior liquidez. Na ponta do Ibovespa, destaque para Ambev (+9,72%), após resultados considerados fortes para o terceiro trimestre, seguida por BRF (+6,56%) e Klabin (+1,37%), movidas pelo dólar a R$ 5,6253 (+1,26%) no fechamento desta quinta-feira; entre as duas, Multiplan (+1,77%). Na face oposta do Ibovespa, Americanas ON (-8,60%), Lojas Americanas (-7,41%) e PetroRio (-7,26).

 

AE