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Verão

Especial

Após 20 anos longe de casa, gaúcho reencontra família com ajuda de caminhoneira

Cleusa Ximendes ofereceu carona ao santamariense Ernani Amaral quando o viu caminhar na estrada

Caminhoneira promoveu reencontro do andarilho com a família que não via há 20 anos | Foto: Arquivo Pessoal / CP

A desesperança de uma família terminou quando o destino uniu dois gaúchos em uma cidade no interior de Goiás. A caminhoneira Cleusa Ximendes, de Pelotas, em viagem a serviço, encontrou o santamariense Ernani Amaral e, por acaso, ao oferecer água e bolachas ao andarilho, descobriu que ele estava longe de casa há 20 anos. Ela o colocou na boleia de volta ao Rio Grande do Sul e promoveu um emocionado reencontro com os familiares. Atuante nas redes sociais, Cleusa, 52 anos, mantém uma página com vídeos que contam o seu dia a dia nas estradas. Foi neste perfil que ela divulgou a primeira conversa com Amaral, em uma rodovia no município de Itumbiara. 

“Eu estava indo e ele vindo a pé, um sol de racha e não havia nada na volta. Ele disse que era de Santa Maria e falei que também era gaúcha”, relata a caminhoneira, que diz morar praticamente no seu veículo de trabalho. O caminhão carregado de açúcar para uma entrega tinha, como de costume, outra carga: mantimentos e roupas a quem a pelotense se deparar nas rodovias, com sinais de necessidade. “Ernani estava caminhando em direção a São Paulo para refazer os documentos e acabei conhecendo sua história”, lembra. 

Amaral deixou Santa Maria há duas décadas, sem dar explicações à família. Chegou a ser visto na rodoviária, o que deixou a impressão de que faria uma viagem temporária. Dias depois, ele entrou em contato por um telefone público dizendo que estava bem e que estava trabalhando em uma empresa de mudanças, em São Paulo. Após três contatos, nunca mais se manifestou.

Dez anos depois, quando a sua mãe faleceu, todos voltaram a procurar indícios de seu paradeiro. À época, já em 2011, o seu CPF e título de eleitor estavam inativos. Por isso, a família acreditou que ele estava morto. Até o encontro com Cleusa, 70 quilômetros já haviam sido percorrido por Amaral. “Já andei por tudo pelo Brasil. Tudo a pé”, diz o homem de poucas palavras que não explicita o porquê do sumiço.

Mobilização familiar 

Por conta das mobilizações dos caminhoneiros, o caminhão de 30 metros de Cleusa ficou trancado em posto de combustíveis no município de Ipê no caminho de volta. Ao invés dela levar Amaral à sua família, parentes foram em sua busca. Entre eles, a sobrinha Gleicimara Amaral, que não escondia a emoção do reencontro. “Reconhecemos o meu tio pelo vídeo na internet. O meu pai, irmão dele, não veio junto porque foi buscar o meu avô, Jardelino, de 87 anos, em Santa Maria. Era o maior sonho dele, reencontrar o filho. Pena que não deu tempo para minha avó revê-lo”, diz a analista comercial. 

Receoso por desconhecer a reação dos familiares, Amaral precisou ser convencido a retomar o contato dos que mais ama, o que inclui três filhos e uma neta que ainda não conhece. “Não queremos explicações”, garantiu Gleici, que conversou com o tio virtualmente antes do abraço real. A reunião de toda família ocorreu em Canoas, na região Metropolitana.

A sensação de quem fez uma boa escolha ao parar seu caminhão para aquele andarilho é nítido nas palavras de Cleusa. “É o terceiro que levo de volta para a sua casa, e não deve ser o último. Sempre gostei de ajudar o próximo, nasci assim”, revela a filha de enfermeiros e mãe de três filhos, todos adultos e com formação acadêmica. A cada novo itinerário, a caminhoneira retoma seus olhares aos invisíveis da estrada. “É a minha maneira de ajudar um pouco esse mundo tão cheio de injustiças e preconceitos”, completa. Ela conta com a compreensão da empresa para qual trabalha e apoio da Polícia Rodoviária Federal para suas ações.

Doações 

Além de reencontrar lares de andarilhos, Cleusa costuma fazer doações em postos de combustíveis e da PRF. Gleici resolver contribuir. “Vamos no encontrar novamente e vou entregar o que já arrecadamos”, confirmou. Interessados em doar, podem encontrá-la pelo telefone/WhatApp (51) 99124-5903. Depois de ‘devolver’ Amaral à sua casa, Cleusa segue sua rota. Como dizia aquela canção do Tim Maia, no caminho do bem.

Christian Bueller