Desde o último dia 30 de maio, ou seja, há quatro meses e meio, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) Leste, no bairro Vila Ipiranga, em Porto Alegre, vive uma situação dramática. Mantido pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), o local está com energia elétrica em apenas uma fase, comprometendo o atendimento às 200 famílias em situação de vulnerabilidade social diretamente acompanhadas, bem como o trabalho dos 28 funcionários. Doze são da equipe de abordagem do Ação Rua e 16 do administrativo. O caso foi denunciado ao Ministério Público gaúcho (MPRS) pelo vereador Jonas Reis.
“Temo um adoecimento da equipe. Estamos bastante cansados”, desabafa a coordenadora do Creas Leste, Janete Nunes Soares. O problema acontece pelo excesso de furtos dos fios de luz que vêm da subestação de energia que abastece o centro e a praça Dom Pedro, localizada ao lado. “Pessoas que não sabemos quem são pularam o muro e cortaram os fios, e a gente ia arrumando. Isto aconteceu bastante. Até que chegaram nos fios de alta-tensão, que não têm manutenção”, diz Janete. Há três meses, o contrato das manutenções também se encerrou.
Cada lâmpada ilumina de maneira diferente; algumas piscam, outras estão completamente apagadas. Geladeiras, micro-ondas e até os computadores e impressoras estão parados, sem uso. “Estamos trabalhando em sistema de revezamento. Não é fácil pra virmos todo dia, antes, no frio do inverno, e agora, neste calorão. Como vamos esquentar a comida? Temos que fazer isso em casa”, diz. Os funcionários, além de trabalharem no escuro, não podem carregar todos os celulares ao mesmo tempo, e recorrem a três notebooks para o serviço não parar.
"Às vezes, temos que colocar os papéis em um pendrive e imprimir em outros lugares". Ainda conforme a coordenadora, o Creas Leste está “deslocado” de seu local prioritário de atendimento, que é o território dos bairros Bom Jesus, Vila Jardim e Santana, o que incorre em um deslocamento maior da equipe, e consequente aumento de gastos e no desgaste humano. “O estabelecimento está aberto, mas não consegue atender a população como deveria, porque não tem como prestar o serviço dada a precarização, simplesmente por falta de energia elétrica. Não é possível a falta de condição de trabalho aos trabalhadores”, afirma Jonas.
A Fasc esteve no local na última terça-feira, e prometeu soluções. O diretor administrativo da fundação, Rodrigo Scaravonato, diz que foram viabilizadas “alternativas” junto à subprefeitura para atender a comunidade. “O serviço não deixou de ser feito. Claro, foi realizada com mais dificuldades. Não houve inércia ou descaso da Fasc”, diz ele. Conforme Rodrigo, os furtos afetaram todo o trabalho do centro comunitário onde o Creas Leste está localizado.“Pretendemos, ainda dentro de outubro, ou mais tardar novembro, ter a energia restabelecida ali”, promete.
Um novo poste de energia também deverá ser colocado no local. Quanto à falta de segurança, há vigilantes trabalhando no Creas, o que não ocorre em todo o centro comunitário. “Sempre trabalhamos em parceria com a Guarda Municipal e Brigada Militar (BM), que são solícitas em nos atender dentro do seu alcance. Porém, enquanto assistência, não temos como disponibilizar ou investir em vigilância para todo este espaço”, comenta o diretor administrativo da Fasc.
CEEE Equatorial "não registrou furtos"
A médio e longo prazo, a intenção da Fasc é realocar o Creas para outro local mais próximo da comunidade. “Estamos buscando imóveis. Já tínhamos encontrado um e acertado com a equipe. Só que o proprietário dele desistiu da locação, e só quer vender agora. Acabou quebrando todo um projeto que tínhamos em cima deste espaço”. Curiosamente, a CEEE Equatorial disse que “não recebeu nenhuma solicitação de tensão baixa do Creas Leste”, e que “não registrou nenhum caso de furto de cabos de energia na região”. “A CEEE Grupo Equatorial está à disposição do Creas Leste para a solução do problema”.
Felipe Faleiro