Andarilho com passagens por vários bairros de Porto Alegre, Loreni sobrevive com o que ganha realizando trabalhos artesanais ou em pequenas reformas. Mesmo sem saber ler ou escrever, sempre se virou para manter uma vida digna. Morador de rua há quatro décadas, o descendente de índios nascido em Miraguaí – município que se emancipou de Tenente Portela em 1965 – deixou a cidade natal aos 8 anos para morar Capital. Foi acolhido por uma família, mas aos 10 anos decidiu sair de casa.
O desafio de morar na rua parecia enorme, no entanto, Loreni já havia passado por um turbilhão de problemas desde a infância. Perdeu o pai aos 5 anos. E a mãe um ano depois. Sem contato com parentes, veio para a Capital, onde iniciou sua trajetória perambulando. Antes de montar a casa que o abriga, Loreni dormia dentro de carrinhos adaptados com soluções criativas, como lixeira e fogão. Barracas também serviam de abrigo.
Uma das poucas vezes em que decidiu morar em um local fixo foi em uma casa na Ilha da Pintada. Foram dois anos. Mas a enchente de julho de 1994 colocou tudo abaixo. E botou fim a um relacionamento com a mãe de seus dois filhos, Eliane, 21 anos, e Elias, 19. Desde 2005, o carpinteiro não vê a familia. Após a perda da casa, a volta para as ruas foi praticamente natural.
Aos 46 anos, garante que vive de pequenas reformas em prédios próximos ao viaduto. “Já trabalhei na Cootravipa, mas o que eu gosto de fazer são trabalhos em madeira”, garante. Mesmo com a vida cheia de altos e baixos, ele assegura que sempre tem uma boa companhia para tomar café e aproveitar a casa. Do lado de fora, aliás, tem um varal de roupas retrátil pendurado. Dentro do quitinete, fogão, mesa, bancos, panelas e copos – todos bem organizados – completam a infraestrutura oferecida pelo anfitrião. A cama modesta e arrumada tem uma pequena entrada. Com uma rotina marcada pelo trabalho, dorme e acorda cedo. “Tendo pernas e saúde, a gente não precisa de mais nada”, destaca.
Felipe Samuel