A Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Famed/Ufrgs) criticou o relaxamento das medidas de distanciamento contra à Covid-19 em Porto Alegre e a promoção do chamado “kit Covid” como tratamento precoce para a doença. Em nota, a Famed vê as ações como erros na condução das políticas de saúde pública e um precedente para uma ruptura no uso da ciência como norte para as decisões. Na última quinta-feira, a Capital decidiu oferecer hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, que não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.
"Tais medidas, além de ampliarem os gastos dos recursos financeiros públicos de maneira indevida, ameaçam diretamente a saúde dos nossos concidadãos e fragilizarão ainda mais a qualidade da assistência prestada pelos profissionais de saúde, ampliando a tensão na linha de frente", diz trecho da nota.
O comunicado salienta que não existem comprovações científicas para justificar a utilização dos remédios e as decisões não seguem orientações técnicas: "O National Institute of Health, dos Estados Unidos, National Institute of Health and Care Excellence do Reino Unido não preconizam o uso dessas estratégias e medicamentos para tais fins", aponta. "A Sociedade Brasileira de Infectologia também se manifestam contrárias a isto."
Por fim, a Famed pede a revogação imediata das medidas adotadas pelo novo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo. Desde que assumiu, o Executivo, além de orientar o uso do Kit Covid, também publicou dois decretos que ampliaram as flexibilizações na cidade, prometendo foco no combate às aglomerações.
Por meio de nota, a SMS limitou-se a informar que os medicamentos estarão disponíveis nas farmácias distritais e nas unidades de saúde. “Tais medicamentos, quando indicados para a Covid-19, serão dispensados à população mediante a apresentação de receita médica válida e assinatura de Termo de Ciência, Consentimento e Orientação Farmacêutica de Hidroxicloroquina, Cloroquina, Azitromicina e/ou Ivermectina para Covid-19”, diz o comunicado, que destaca ainda que os remédios não serão comprados e sim enviados pelo Ministério da Saúde.
Responsável pela medidas de enfrentamento, a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento da Covid-19 (Secovid) também se manifestou por meio de uma nota. A pasta defendeu que todas as decisões são discutidas com diversos setores da sociedade, com representantes de sindicatos médicos, hospitais, dos setores econômicos, de entidades governamentais e das universidades. Segundo o comuninacado, "a Ufrgs também foi convidada sem, contudo, ter apresentado nas reuniões qualquer objeção às medidas adotadas até o momento".
A Secovid também ressaltou que aumento a fiscalização para que as determinações fossem cumpridas, e que, em caso de agravamento da situação epidemiológica, novas normas serão editadas pela prefeitura.
Vítor Figueiró