A Ilha da Pintada também foi atingida pela inundação decorrente das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul e elevaram os níveis da rede hidrográfica que desemboca no Guaíba, em Porto Alegre. Nela, a rua Nossa Senhora da Boa Viagem, ao lado rio Jacuí, transformou-se em uma via fluvial com barcos de pescadores passando de um lado para o outro ao invés do habitual trânsito de veículos.
Para chegar nas moradias no local somente de embarcação. “Tem muita água para descer...Tudo desemboca no Guaíba. Vem do arroio dos Ratos e do rio Taquari, Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí”, explicou o diretor da Colônia de Pescadores Z-5, Edimilson de Oliveira, 54 anos. “Toda a rua Nossa Senhora da Boa Viagem está intransitável”, confirmou.
Ele nasceu na ilha e sabe bem o que acontece devido aos ensinamentos repassados pelo pai. “A realidade é essa quando tem chuva nas cabeceiras”, sintetizou. “Nosso medo é o vento Sul que faz a água represar. Não tendo ele, a água vai escoando rapidamente para a Lagoa dos Patos”, acrescentou.
A forte correnteza da água que chega até o Guaíba e prossegue até a Lagoa dos Patos traz junto um fenômeno natural. “Tem peixe que desce e tem peixe que sobe. Ele é o que mais avisa quando vem uma cheia. A gente tem que respeitar a natureza”, disse o diretor da Colônia de Pescadores Z-5. Os pescadores aproveitam então a ocasião para lançar as redes. “O peixe entra nos banhados e nos matos. É onde o pescador se defende”, justificou Edimilson de Oliveira.
Outro pescador profissional, Leandro Oliveira, 49 anos, chegou de barco pela rua Nossa Senhora da Boa Viagem e “aportou” na rua Oscar Schmitt, carregado de peixes que já foram até comprados. “Bagre, pintado e jundiá são típicos da correnteza de água cheia e do inverno. Eles vêm da Lagoa para esperar a desova lá em cima”, comentou.
Sobre a situação da cheia na Ilha da Pintada, o pescador Leandro Oliveira relatou que moradores na parte mais baixa da Ilha da Pintada “estão com a casinha com água a um palmo da janela”. Na opinião dele, a situação deles é “bem pior do que a nossa”. Morador de uma residência na esquina das ruas Nossa Senhora da Boa Viagem e Oscar Schmitt, Marcelo Nunes de Freitas, 47 anos, já viu a mesma cena outras vezes. “Em 2015, a água entrou...Pegou dias de vento Sul”, recordou. “Tem que ficar monitorando sempre, mas não tem plano B. Tem que ficar aqui”, afirmou.
Correio do Povo