Mesma sorte não têm os produtores que aguardam na extensa fila. É o caso do agricultor Pedro Vieira Marques, de São Luiz Gonzaga, que espera há um ano pela autorização para implantar sistema de irrigação em 280 hectares de soja. Nesta safra, devido à seca, ele estima perda de 30% da safra. "A irrigação dá segurança de produção e viabiliza a permanência na atividade, mas, hoje, no discurso é uma coisa e na prática, outra". Segundo o engenheiro florestal Nelson Nicolodi, para obras como açudes, a burocracia é tão grande que muitos produtores optam por retirar água de rios. Ele explica que, para remoção de vegetação, o processo contempla nove etapas, quatro no DRH, três na Fepam e três Departamento de Florestas.
A diretora do DRH, Nanci Giugno, reconhece as dificuldades. Contando com menos de dez técnicos para avaliar os processos, o atraso é inevitável e leva todos os dias o Ministério Público à porta do departamento devido ao descumprimento de prazos previstos em lei. A necessidade é de, no mínimo, 40 profissionais. Hoje, o DRH emite outorga, mas não fiscaliza. Neste caso, além de ampliar as contratações, seria preciso descentralizar os serviço, concentrado em Porto Alegre. Otimista, Nanci espera que o primeiro passo para a reestruturação do órgão seja a contratação emergencial de 23 técnicos, autorizada pelo governo no final de 2011. "O objetivo da gestão de recursos hídricos é garantir água a todos, fazendo o equilíbrio entre disponibilidade e demanda", diz ela, ao ressaltar a importância do procedimento.
Irga aponta safra 10% menor
A chuva registrada nos últimos dias do Rio Grande do Sul ajudou a reverter os prognósticos de perda da lavoura arrozeira devido à estiagem. Mesmo assim, levantamento divulgado nessa terça pelo Irga indica que a redução de safra 2011/2012 deve ser de 10% frente aos 8,9 milhões de toneladas colhidos no ano passado, o que ainda leva em conta a diminuição de área plantada devido à crise de comercialização.
Nessa terça, após reunião de coordenadores do Irga, foi constatada melhora significativa das condições em várias regiões produtoras do Estado. Contudo, conforme o diretor técnico do instituto, Valmir Menezes, o quadro segue crítico no entorno de Santa Maria. "Se não chover nos próximos dias, área de 20 mil hectares poderá ser comprometida", avalia. O plantio fora de época, depois de 10 de novembro, também deve frear a produtividade, já que a primavera chuvosa levou muitos arrozeiros a adiar a semeadura.
Cleidi Pereira / Correio do Povo