“Todos os transplantados são meus irmãos. Eles brincam comigo que quanto mais eu viver, mais esperança eles têm”, disse. Nesse período, Marilene teve um filho, hoje com 22 anos, conheceu a família do doador, mas segue mantendo cuidados pós-operatórios. Ela se disse muito grata a decisão da irmã Ivone em autorizar a cirurgia, mesmo com a negativa dos outros irmãos. “Ela me disse: tomara que esteja assinando a tua vida e não tua morte”, lembrou ao abraçar a irmã. Elas recordam ainda que antes não eram totalmente favoráveis à doação de órgãos.
O chefe da equipe Guido Castiasani relatou que a escassez de doadores ainda é um problema. Já a cirurgiã da equipe Maria Lúcia Zanotelli conta que a lista de espera para o transplante de fígado fica entre 160 e 200 pacientes e que 20% são de fora do Estado. “Talvez tenha mais pacientes que necessitem, mas que acabam não chegando até o serviço”, disse.
O secretário Estadual de Saúde, João Gabbardo, ressaltou o papel da instituição como referência nacional. “O ato mostra um outro lado do sistema de saúde, o SUS que dá certo, com um serviço que os planos privados não oferecem. É uma área que atende a toda a população, mesmo aqueles com alto poder aquisitivo”. O transplante é totalmente financiado com recursos do governo federal, o que não reduz outros atendimentos. “Essa é uma política muito importante e um dos motivos pelo país ter um número tão elevado de transplantes. O Estado banca apenas o processo de capacitação e logística”, explicou Gabbardo.
Desde o início do ano, a Santa Casa realizou 224 cirurgias de transplante de órgãos, sendo a maioria de rim (101 de doadores falecidos e sete de doadores vivos), seguido por fígado (38 de doadores falecidos e um de doador vivo). No mesmo período de 2015, foram 231 cirurgias.
Jéssica Mello