Um dia antes da tragédia que matou dezenas de pessoas vítimas de deslizamentos em Petrópolis, a Secretaria de Defesa Civil do município rebaixou a região do estágio de atenção para o de observação por causa, segundo nota publicada no site da prefeitura na segunda-feira (14), da "ausência de registro de chuva significativa na cidade" e devido "a redução dos acumulados pluviométricos nas últimas 24 horas".
Um dia depois, na terça-feira (15), choveu o equivalente a 260 milímetros no município em apenas seis horas, mais de que os 240 mm esperados para todo o mês de fevereiro. O estágio de observação se justificava porque, nas palavras da secretaria, havia a previsão de instabilidade no tempo e nebulosidade no município.
"Mesmo com a redução da chuva estamos com nossas equipes em monitoramento constante e pedimos que a população fique atenta aos nossos avisos, que podem ser emitidos com atualizações sobre a previsão a qualquer momento”, destacou o secretário de Defesa Civil, o tenente-coronel Gil Kempers. Não há registro no site da prefeitura de que esses avisos de aumento de riscos ocorreram.
Na quinta-feira da semana passada (10), outra nota da Secretaria da Defesa Civil também publicada no site da Prefeitura de Petrópolis considerava a situação mais grave naqueles dias, por isso mantinha o estágio operacional de atenção, estabelecido quatro dias antes.
"Petrópolis soma quase 100 ocorrências em função da chuva, que afeta a cidade de forma constante, desde a última segunda-feira (7). A maior parte dos atendimentos registrados foi por deslizamentos (36 casos) ou por avaliação de risco geológico ou estrutural em ruas e residências (33 casos)", disse a secretaria na ocasião.
Na nota, a secretaria afirmava que a Defesa Civil trabalharia com os efetivos reforçados enquanto se mantivesse o estágio de atenção. "Todas as equipes foram acionadas para agilizar os atendimentos. Agentes operacionais e técnicos - engenheiros e geólogos – atuam em conjunto, incluindo assistentes sociais quando necessário."
No boletim do dia 10, havia a informação de que foram feitas 16 interdições em imóveis nas localidades de Araras, Quissamã, Itamarati, Duarte da Silveira, Bairro Castrioto e Posse. "As famílias foram realocadas em casa de parentes e recebem todo o suporte da Secretaria de Assistência Social, que avalia de acordo com o perfil social, os benefícios adequados a cada caso."
No texto da semana passada o órgão tentava tranquilizar a população dizendo que "as equipes da Defesa Civil seguem acompanhando o funcionamento da cidade por meio das 56 câmeras do Centro Integrado de Monitoramento de Petrópolis, por onde os agentes conseguem identificar intercorrências por conta da chuva e atuar de forma antecipada".
A Cemaden-RJ (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais do Rio de Janeiro) explica em seu site a diferença entre os dois estágios de monitoramento, deixando claro que o de observação aponta risco geológico (de deslizamento) baixo, enquanto o de atenção vê chances moderadas.
Acima dos dois está o estágio de alerta, que vê risco alto e o de alerta máximo, muito alto. Nenhum dos dois, pelo menos segundo o site da Prefeitura, chegou a ser acionado. A assessoria de imprensa do município foi procurada, mas não respondeu os contatos do R7 até o fechamento desta reportagem.
R7