A incógnita sobre a futura política climática do Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro e os protestos dos "coletes amarelos" na França contra uma taxa ecológica também pesaram no desenrolar da 24ª Conferência da ONU sobre o Clima, três anos depois das celebrações em Paris com o anúncio de um acordo histórico.
Com o aumento da temperatura de 1 °C em comparação à era pré-industrial e o avanço de 2,7% das emissões de gases do efeito estufa em 2018, os países mais vulneráveis tentaram buscar o consenso, com alertas sobre o risco de "extinção". "Em alguns pontos, as negociações estão paralisadas", afirmou na quinta-feira o representante chinês Xie Zhenhua.
A ciência como base
Depois que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática (IPCC) advertiu em outubro que o mundo não pode permitir um aumento da temperatura superior a 1,5 ºC, o que colocaria em risco o futuro da humanidade, Estados Unidos - que participam nas negociações apesar da retirada do Acordo de Paris decidida por Donald Trump -, Arábia Saudita, Rússia e Kuwait se recusaram a apoiar o relatório.
O detalhe é significativo porque toda a ação climática internacional deve ser baseada nos resultados científicos. Um rascunho do texto final divulgado nesta sexta-feira se limita a "convidar as partes a fazer uso da informação contida no relatório do IPCC".
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A polêmica ofuscou as duas questões cruciais abordadas na abertura da COP24: a elaboração das regras para aplicar o Acordo de Paris e a futura revisão dos compromissos nacionais de redução das emissões. A primeira diz respeito a assuntos como a transparência - como os países podem verificar se cada um cumpre as sua promessas - e o financiamento, ou seja, de que maneira os países desenvolvidos acompanham os mais pobres na adaptação à mudança climática.
A segunda, por sua vez, implica a ambição. Embora os países tenham estabelecido em 2015 metas voluntárias de redução das emissões para conter o aquecimento a menos de 2 ºC, estas deveriam ser revisadas em 2020. O rascunho do texto final "reitera a demanda de "atualizar" as contribuições.
De acordo com o IPCC, mesmo com a aplicação dos objetivos do Acordo de Paris a temperatura subiria 3 ºC até o fim do século. O texto em estudo é "um início, mas o trabalho não acabou", afirmou Jennifer Morgan, do Greenpeace, antes de pedir ao países um compromisso por metas maiores de redução das emissões.
AFP