Se antes da meia-noite desta sexta não houver acordo, o este "shutdown" será o mais longo da História, superando os 21 dias de outra paralisação orçamentária ocorrida entre 1995 e 1996 durante o mandato de Bill Clinton. Enquanto isso, cerca de 800.000 funcionários públicos de vários departamentos e agências federais não receberam o seu salário nesta sexta-feira.
A maioria deles recebe a cada quinzena e, por isso, o pagamento foi feito no final de dezembro. Para metade dos funcionários, considerados "não essenciais", foi dada uma licença sem salário, enquanto a outra metade se retirou temporariamente. O "shutdown" atinge vários deparamentos fundamentais, como os de Segurança Nacional (DHS), Justiça e Transporte.
"Mais de 200.000 funcionários do DHS – encarregados de proteger o nosso espaço aéreo, nossas vias fluviais e nossas fronteiras – não receberão o seu salário enquanto trabalham", denunciou Bennie Thompson, presidente democrata da Comissão para a Segurança Nacional da Câmara de Representantes.
Os principais sindicatos do transporte aéreo, entre eles os de pilotos, tripulação e controladores aéreos, denunciaram na quinta-feira que a situação está piorando, e advertiram sobre o risco que isso supõe para a segurança do país. Cerca de 2.000 funcionários se manifestaram na quinta-feira em Washington para mostrar a sua inquietação pela deterioração de suas condições de vida.
"Feitos reféns"
"Temos contas a pagar. Temos que pagar nossas hipotecas", se queixou à AFP Anthony, um funcionário público da Guarda Costeira. "Sempre tive o salário mais alto em casa e os tempos são difíceis agora que o dinheiro não chega. Felizmente temos algumas economias para sobreviver, mas não durarão muito", explicou. "Nós, funcionários, fomos "feitos reféns" pelo presidente, acrescentou.
Ao longo do país são organizadas iniciativas privas e públicas, como distribuição gratuita de comida e feiras de emprego para funcionários tecnicamente desempregados. O "shutdown" afeta também os recém-casados, que não podem legalizar a sua união pela falta de funcionários federais.
Diante de um panorama nada encantador no Congresso, Trump ameaçou recorrer a um procedimento de "emergência nacional". "Se não chegarmos a um acordo, o mais provável é que eu faça o que disse que faria", afirmou na quinta-feira ao canal Fox News, à margem de uma visita à colônia McAllen, na fronteira com o México. "Temos o direito absoluto de declarar uma emergência nacional, é um problema de segurança", argumentou o bilionário republicano.
Mas este mecanismo que concede ao presidente poderes extraordinários acabaria, previsivelmente, nos tribunais, uma situação que agravaria ainda mais a crise política. A Casa Branca planeja desviar os fundos de ajuda de emergência para áreas devastadas por desastres naturais, como Porto Rico, para financiar a construção do muro fronteiriço, segundo publicações da mídia americana. Uma paralisação prolongada do governo federal "teria um efeito considerável" na maior economia do mundo, advertiu o chefe do Federel Reserve (Fed), Jerome Powell.
AFP