A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, reconheceu nesta terça-feira que a derrota dos candidatos pró-Pequim nas eleições locais reflete o descontentamento com a forma do governo de administrar a crise política no território semi-autônomo.
As eleições de domingo mostraram a preocupação com "as deficiências do governo, especialmente o descontentamento com o tempo necessário para lidar com a atual instabilidade e, logicamente, para acabar com a violência", disse Lam em sua coletiva semanal.
A líder de Hong Kong, que personifica a ira dos manifestantes, prometeu que seu governo "refletirá seriamente" sobre o resultado destas eleições e sobre como "melhorar a governança", mas sem fazer concessões concretas ao movimento pró-democracia. A eleição dos 452 conselheiros distritais, que lidam com questões como manejo do lixo e rotas de ônibus, geralmente desperta pouco interesse.
Mas no domingo, a eleição tomou um significado totalmente diferente por causa do movimento de protesto. No final, os candidatos pró-democracia conquistaram 388 cadeiras, um ganho excepcional de 263 vagas na comparação com as eleições anteriores de 2015. Os candidatos pró-Pequim mantêm apenas 59 assentos e cinco vão para candidatos independentes.
A participação superou 71% dos 4,13 milhões de eleitores registrados, uma taxa recorde. Diante do resultado, os opositores imediatamente convidaram Lam a atender suas cinco reivindicações, incluindo o advento do sufrágio universal na megalópole de 7,5 milhões de habitantes, e uma investigação sobre a atuação da polícia nos protestos.
O resultado foi "nada menos que uma revolução", declarou à AFP Willy Lam, analista político de Hong Kong. "É uma profunda rejeição da administração (de Hong Kong) e da política de Pequim em relação a Hong Kong". "Os manifestantes considerarão esta incrível vitória como um mandato concedido pelo povo, para que lutem ainda mais.
Mas, ao mesmo tempo, não haverá concessões de Pequim, o que deve fazer a frustração crescer". A eleição dos conselheiros distritais obedece a um sistema de votação que, em Hong Kong, é o mais próximo da representação direta.
A votação não é apenas simbólica, já que seis cadeiras do Conselho Legislativo (LegCo, o parlamento de Hong Kong), que será renovado no próximo ano, serão disputadas por candidatos dos conselhos distritais. E esses conselhos também enviarão 117 de seus membros para o colégio eleitoral de 1.200 pessoas, controlado por Pequim, responsável pela nomeação do chefe do Executivo.
AFP