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Especial

Milhares protestam contra imigrantes no norte do Chile

Manifestação ocorre um dia depois da violenta desocupação de uma praça em que viviam vários venezuelanos

| Foto: Martin Bernetti / AFP / CP

Cerca de três mil pessoas foram às ruas neste sábado (25) em protesto contra a imigração ilegal na cidade de Iquique, norte do Chile. A manifestação ocorre um dia depois da violenta desocupação de uma praça onde várias pessoas, a maioria venezuelanos com crianças, dormiam em barracas.

Em um clima de aberto repúdio, os manifestantes entoaram o hino da cidade e agitaram bandeiras chilenas, assim como a Whiphala, pavilhão colorido dos povos originários andinos. Também cantaram e exibiam cartazes com lemas como: "Chega de Imigração Ilegal" e "O Chile é uma república que se respeita".

A partir da Praça Prat, no centro histórico de Iquique, os manifestantes marcharam por dez quarteirões até a praia banhada pelo oceano Pacífico, onde os carabineiros tiveram que controlar escaramuças isoladas provocadas pelos chilenos que se aproximavam para agredir os venezuelanos em situação de rua.

Desde a manhã de sábado, os imigrantes tentavam se esconder em outras áreas deste balneário para evitar os manifestantes, constataram jornalistas da AFP. Outros manifestantes radicais se dirigiram a um pequeno acampamento de venezuelanos - que não estavam no local - e queimaram em uma barricada seus poucos pertences: barracas, colchões, bolsas, cobertores, brinquedos.

"Eu sou nascido, criado e mal-criado em Iquique. Sempre vivi nesta região do norte e isto que estamos vivendo é terrível porque o problema é que na Venezuela abriram as prisões e parte dessa gente chegou ao Chile", disse à AFP Veliz Rifo, um agricultor de 48 anos de La Tirana, povoado em uma espécie de oásis no deserto 72 km a leste de Iquique, fazendo menção a uma informação falsa.

"O pior é que este governo do Chile deixou isto crescer e os que chegaram não são refugiados políticos, nem imigrantes que contribuem com seu trabalho, aqui chegaram muitos delinquentes", acrescentou, lamentando, assim como muitos manifestantes, o aumento dos assentamentos erguidos pelos imigrantes com caixas de papelão e folhas de zinco nos arredores desta cidade portuária a quase 2.000 km de Santiago.

Outros manifestantes pediam que os mais violentos respeitassem o ato pacífico, enquanto nos restaurantes do centro histórico, garçons venezuelanos e clientes chilenos viam de longe a cena, que denominaram como "triste". "Nem todos os venezuelanos roubam, nem todos os chilenos nos odeiam", diziam em uma mesa do Café Francesco da Praça Prat.

"Má gestão"

O protesto ocorreu um dia depois do desalojamento da Praça Brasil, onde há um ano pernoitam os migrantes mais pobres e sem documentos que não conseguem chegar a Santiago e sobrevivem vendendo balas, pedindo esmolas ou limpando vidros dos carros nos sinais de trânsito da cidade.

Na operação policial, repudiada por autoridades locais e organizações humanitárias, Jeremy, um menino venezuelano de 4 anos, ficou 24 horas desaparecido. Ele era procurado na manhã deste sábado por carabineiros, que mostravam fotos da criança aos pedestres na praia. Finalmente, o menino foi encontrado.

"Menos mal que encontraram o menino, mas isto resume a má gestão de todo esse drama humanitário, o governo pensa que é só deportar alguns e desalojá-los de uma praça", queixou-se Franklin Pérez, administrador de um prédio no centro de Iquique.

O governador da região de Tarapacá, José Miguel Carvajal, culpou o governo do presidente Sebastián Piñera pela crise migratória no norte do país. Ele queixou-se que não foi alertado do desalojamento de sexta-feira, que gerou o repúdio de uma parte da população.

"As cem famílias na Praça Brasil hoje (sábado) estão perambulando em diferentes espaços públicos; estão realocando-se com amigos, próximos, com quem vão se alojar novamente com barracas nas praias de Iquique, e outros estão se mobilizando para assentamentos em Alto Hospicio", zona industrial nos arredores de Iquique.

A colônia venezuelana é a mais numerosa do Chile, com mais de 400.000 pessoas, embora estime-se um número muito maior devido ao aumento de entradas por corredores clandestinos desde 2020, quando o Chile fechou suas fronteiras por causa da pandemia.

Além disso, o governo chileno deu uma guinada em sua política de solidariedade com os venezuelanos, defendida pelo presidente Piñera em 2018. O país ofereceu vistos exclusivos para que os venezuelanos "tivessem oportunidades no Chile".

Desde então, diminuiu drasticamente a aprovação de qualquer visto para quem viaja da Venezuela. Depois veio o fechamento de fronteiras pela pandemia e muitos venezuelanos começaram a chegar após viverem por alguns anos em Colômbia, Equador e Peru.

As chegadas de pessoas ao Chile por passagens clandestinas somaram 23.673 até julho, quase 7.000 a mais do que em todo o ano passado, segundo o relatório do Serviço Jesuíta aos Migrantes (SJM) no mês de setembro.

AFP